sábado, 21 de abril de 2007

uma canção por fazer

na brevidade da brisa soou um sonho
que na aurora dourada fez moradia;
das carícias dum Sol profundo se fez,
e nas noites de prata ele ardia.

um sonho de cantar toda e cada nota
em cada espaço de espanto que ouvesse
no tempo da vida suave.

soaria o sonho em cada e toda esquina
de vento que leve mais longe o encanto
até pro menino da calçada ao relento
até nos berços eternos, as covas,
ou os berçários e os varais e os jardins.

e nas tardes carmins, sem demora,
põe-se o sonho a tocar os lábios
na sabida e ávida face da distância,
que se deita macia, e me faz te encontrar.

e o sonho de cantar alto, de lembrar cada letra
da qual me esqueci, sem nunca ter escutado antes
tal quão doce melodia.

vontade de criar músicas do nada,
da poeira fugidía dos dias,
pra embalar em calmaria
toda essa profuzão de sentimentos
e sentidos confusos.

uma música que bastava ser um assobio,
um sopro, fagulha de alma e sonho,
-a saber, uma letra incontida e criança,
recém desperta no peito do homem só.

uma canção a se fazer no meio do seio da vida
com calma vadia de se escorregar e correr
nos parques e nas curvas do destino.

um tom brando e macio, marcado ao passos
que ressoam nas paredes brancas,
o coração que salta em pulsos cândidos,
enlouquecido pra cantar.

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o sol bate na janela, e alaranja e enche o quarto inteiro, inclusive o olhar e o sorriso. tô com vontade de cantar... mas sem letra, com calma, sem pressa, suave... quero cantar, mesmo que desafinado, uma vida inteira de sonhos e brisas.
escuto música nos seus movimentos macios, e nos seus cabelos, no seu perfume...
amor já é alegria e canto que me basta....

domingo, 15 de abril de 2007

pro doce olhar duma menina

nesse mal-querendo viver
arrebentei meu peito à sua porta
só pra ver se você se importa...

nessa coisa besta de contar o tempo
me perdi nas horas dos seus lábios
e nada além disso me devora mais...

corro entre o vento e o seu vestido
brincado de carícia com seu veneno
que me mata na felicidade, alento.

nessa plenitude dessa tarde
já aparece tempestade
mas me embriago das ondas
do seu doce mar-amar...

ê, vida cansada no peito de tanto pulsar.
corro entre os morros do nosso leito.
nunca canso de te esperar.

e se é alta a lua ou a hora
que não seja a última a chegar
pra nós dois a alegria desse olhar.

o seu doce toque, meu suor de amor.
juntos nessa tarde, crianças ao tempo
da inocência nua dum brincar.

e já não é sem tempo,
que me arrebata o canto:
para sempre nessa tarde,
sempre e terno, amar você.

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"que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure..."
Vinícius de Moraes

quarta-feira, 11 de abril de 2007

vespertinar

núvem matutina clareia o dia
respira brancura espelhada
na água do céu,
rio azul de ponta-cabeça.

de noite, à cima, precipício,
princípio e fim
no vazio estrelado.

os anjos quedam
sem o chão de céu.

sem asas, nem nada...

terça-feira, 10 de abril de 2007

asas (de outrem)

imoladas!
veladas,
inaladas...
aladas?
caladas.

terça-feira, 3 de abril de 2007

despedida incontida

os versos que outrora tecia
são puros e agora lhe entrego
o poema de sangue rubro
e branco de paz eternecida.

na clareza santa da espera,
essa pútrida mansão dos sonhos,
me despedaço em tom macio
com o toque leve que teu olhar me dera.

não vejo mais, embriagado
em desatino, a distância
tão próxima desse meu horizonte,
que plácido deita-se - a oeste.

é com teu olho d'água
que na noite enxergo,
prevendo as madrugadas
a galgarem os montes.

é com teu olho fechado
que em sono profetizo
o som que há de romper
a aurora:
alma vazia a acorrer socorro.

mas seu esplendor divino
gozava calmaria leve.
calava-se o espírito
(por hora breve)

tão definitiva calmaria
inigualavelmente ardia
invejavelmente sonhava
em tal eternidade dormia

na vaguidão do destino
nunca outra aurora haveria
nunca mais a espera
nunca e sempre, tardia.

os versos que outrora tecia
agora - tão tarde - lhe entrego
na carta de sangue e espera
na noite que não me sorria.

--
pro Bruno

segunda-feira, 2 de abril de 2007

infanticida

ainda lembro,
faz um tempo,
que o sonho me sorriu.

seus olhos infatis
lembravam-me...
ainda lembro
de mim?

na tortura do tempo
torto:
nu, como sempre fora,
eu nesse momento.

nu e pequenino
menino sonhador
e demente.

desde quando
sei de tudo?

desde de sempre
e por isso sempre desconfiava
desse fio de navalha
(sanguinária)
que é a verdade.

beijo, boa noite, adeus.
derreto-me a toda hora
buscando no sonho
a paz que a vida não deu.