segunda-feira, 29 de junho de 2009

da digressão linguística n° 1

qual é a real necessidade de letra maiúscula? é uma letra gananciosa com sonhos de grandeza, não tem realmente nenhuma finalidade prática. se vc vê a pontuação, não há porque maiúsculas. acho que as letras merecem ser todas iguais, do jeito que falamos, do jeito que sentimos. a escrita tinha que obedecer a gente, e não o contrário.

(do insight) da plenitude

deixei-me acreditar / que era nulo, vago e morto / julguei-me errado, / julguei-me roto.

mas minhas pernas erguidas / minhas penas sofridas / arrancaram-me, elevaram-me /com mais força que pedra firme.

sou mais sólido que o vento / e quando eu tento / posso até ser mais que penso / mesmo que um pouco tenso.

de agora em diante, não mais remorso / sei que agora tudo posso, / que tudo traço e destroço: / eis meu sorriso no rosto.

resguardarei minhas intenções / arquitetarei revoluções / e dos meus medos superados / erguerei fortaleza e treva armados.

serei negro e branco e transparente / nunca d'antes tão presente / nunca antes tão como eu / jurei e juro ser meu

inteiro no erro desnecessário / completo no gozo herege / e na nudez pura que me rege - até a hora da morte - / achar em mim o abrigo provisório.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

verdades universais escondidas na parede branca

não contem a ninguém.
mas parece que no fundo toda sabedoria deseja ser burra.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

do sonho no cansaço

mas no dia seguinte vem um alívio, e o peso se quebrou na cama. não há mais impecilhos, nem nomes para problemas. eles não importam mais. a brisa é fresca e leve nos cabelos. o sol acaricia devagarzinho as nuvens. as árvores conversam entre seus galhos.
em breve trarei um sorriso desses no rosto.

das (co)incidências atônitificantes

é impressionante como certas coisas difíceis, certos desafios, teimam em vir em momentos de total perplexidade. a gente só deixa cair a torrada com a manteiga pra baixo quando a gente tá com fome. sempre queima o feijão quando é tudo que se tem em casa pro almoço das visitas. o cachorro só mija no pé do visinho mau humorado. a sogra vem visitar quando a esposa tá de tpm...
as vezes murfy governa a vida.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

do primeiro julho

uma bruma pueril se espalha
e no vento anuncia sombria o espaço
que se dará n mês de julho.

ela me abole de toda certeza
e essa liberdade me dá calafrios
mais ainda que o inverno.

serão as noites sozinhas e sóbrias?
e as manhãs embreagadas de belas?
o mundo romperá em primavera?

a neve repousa invisível no meu rosto
o calor do sangue abraça os seus flocos
que permutam e lágrimas parecem.

póstumo ao último outono

as palavras aladas de imagens e as idéias,
ransosas de pouco prováveis
propõem-me aceitar meus olhos,
minha pele, minha comida, meu relógio.

de pouco em pouco mergulho
e de grande susto o golpe me atropela:
pouco dela há em meu espelho
- e meu rosto, queimado de beijos, me renega.

o que eu sonho é puramente o que reflito.
é verdade que a verdade é ela,
e só na sua falta eu me sinto.

messes caminhos desencontrados me equilibro
e meus pés, de ressecados, estão vazios.
minhas mãos so tocam aquilo que se torna imóvel.

domingo, 7 de junho de 2009

SETE DE JUNHO


deixa a ferida aberta, perdida.
deixa a manhã correr partida
e todas as flores no mar, recaídas,
são todas as dores a mais, esquecidas.

deixa pra trás as palavras frustrantes!
arranquem os amores, melhores amantes!
deixa apagar essa chama ferina
e a todo o mal pelo ar repugna.

deixa decepar a paz pequenina,
que toda mudez se impõe repentina
no palco, no altar, no paço sombrio
- fazendo d'alegria o mais tenso arrepio.

deixa o sangue correr furioso!
deixa a lâmina lamber, assassina,
derramar o raiar, pôr-do-sol glorioso,
apagar essa marca do horror que fascina.

retoma em passo que então se aproxima
a escuridão que ilumina o cruel labirinto
desse homem nu, morto, faminto
que do fim, só do fim, se aproxima.