domingo, 27 de agosto de 2006

Legislações

abaixo a burocracia da vida
que inconsciente dita
o universo atrás dos panos!

abaixo o amor jurídico e jurado.
viva o amor vivido,
o amor amado, retardado e cego
para as leis!

viva o departamento dos sonhos
no esquema estúpido da vida.

murphy com o inferno pras suas leis,
ou com suas leis pro inferno...

crio a constituição do meu caminho
sozinho, e o mundo no peito
pra sentir o que eu sinto,
livre e por inteiro.

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Poema vampiro

um brinde largo à poesia sangue-suga,
que arrebata do fundo das veias
a inspiração fluída que se esconde
no recôncavo do universo interno.

suga à superficie da alma
a dor sublime dos deuses
de criar com a palavra simples
mundos e novos mundos
de palavras vagas, puramente.

escorre lento o sangue de letras
da artéria pulsante do poeta.
gritando baixo e sincero
a verdade bruta e incerta:
poeta bom é poeta morto.

morto e seco sobre o papel
que aflora teu sangue escuro
na planície branca e funda da folha,
alagada de sangue puro e podre
do poeta incerto e torto.
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afinal...
de que vale um poeta?
uma pétala de Iroshima.

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Ode ao vazio

ressonante...
















...assim me disse o vento.

domingo, 13 de agosto de 2006

Brincadeira de criança

a esperança
brincava
de equilibrista.

ela caiu.

e sangrou
até morrer,
coitada...

sábado, 12 de agosto de 2006

Noite dos namorados

a noite se mostrava.
estava clara pela janela.
lá estava eu.
lá estava ela.
lá estava o silêncio.

o vento soprou num canto
perfumado do jardim.
e cheiro veio lento,
doce e leve, assim...

tocava a pele plácida,
clara essência de sonhos.
e o calor a me embalar
era pura poesia.

senti o tempo passar
olhei a lua brilhar...
olhei o olho dela.

tudo lindo, tudo limpo.
tudo belo...

tudo tédio.

... joguei merda
no ventilador!
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hehehehe!
Desculpem... foi quase sem querer.
não pude perder a oportunidade...
voltemos a seriedade pórrica do amor.

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

De verdade em verdade vos digo

na verdade,
acho que é puro fingimento,
achar que sinto esse tormento.
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Tardinha de hoje...

Tem dia que paira uma nuvem multicolorida na minha janela. Parece risonha querendo brincar: rola no céu, gostosa, se esparrama naquele azul infinito. Eu até que quero.
Mas coitados dos meus braços... As minhas mãos arderam envergonhadas...
A nuvem passageira ficou só na vontade. Foi passando, sumindo, dissolvendo... e foi embora.

Agonia

de tudo que cinge o cosmo,
prefiro fingir que é pena
esse brilho nos seus olhos
perolados de negra tinta.

preto que chora o branco.
branco que rola lento.
mais lento é o tempo que leva
pra cair brando o pranto pálido
nessa minha alma pequena.

palma simples que pede calma
pra respirar fundo,
perante, inerte, ao fim do mundo
e do grão de areia.

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Mimos de domingo

sopra o vento em meus cabelos.
lambem as ondas os meus pêlos.
será que desse tédio sobrevivo
aos doces mimos que careço?

Reação (i)Lógica

Fé de ferro

é corroída

pelo oxi-gênio humano.

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PS: - viva o ceticismo, e as aulas de química.
- viva o ceticismo só mesmo... dispenso a química...
- viva, ainda que seja de mentira. (a vida ou o ceticismo? não sei...)

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Simplicidade

poesia é simples
como a flor
e a bomba atômica,
a dor
e a paz atônita,
a dose ultrapassada
do equilíbrio sóbrio.

a poesia é simples
e dura como a realidade.
é a porta torta
para o sonho errante.
a poesia é pura,
orgasmo da alma.

a poesia é sempre
um grande nunca.
a poesia sopra
o vento dos tempos
nos olhos do homem.

a poesia sobra?
a poesia falta?
a poesia escapa?
a poesia nua?
a poesia é falsa?

há poesia.

no branco da página.

(...obrigado ...)

(Fico feliz, caso consiga abrasar corações e cabeças.
Caso seja muito imaginá-lo, agradeço então a simples atenção desses teus olhos desconhecidos.
Um grande abraço, carinho de bobos que somos todos nós nessa valsa de circo: dançar tão sonsamente em cima dessas linhas poucas, cordas bambas de bambos sonhadores.

obrigado, previamente, aos poucos olhos que viram esse ponto meio escondido, meio tímido, nesse vasto mundo falso de palavras e números que seguem sonsos na rede. Sincera e humildemente agradeço alguns carinhos que tão logo recebi... espero continuar contando com a presença de vocês se possível, querida platéia do meu circo invisível.)

Aposentadoria ( ou o assalto )

retiro minhas linhas dos meus bolsos
assustado, humilhado talvez.

de que vale um poeta
sem essa moeda de duas faces?
sem esse sopro, sem essa vida?
sem as condoídas mãos fiandeiras de sonhos?
sem o poema de prata e madrepérola?

retiro, contudo, tudo
num soluço só.
nuas as paredes da vida,
como deve ser.
ou não, talvez.

talvez, e ai quem me dera,
ter um verso pra mim.

já me levaram embora,
calaram um poeta
e um poema, enfim.

Noite sem nuvens

parei do nada pro nada
pra talvez, não sei,
olhar calado as estrelas.

do alto olhavam...
do alto piscavam...
do alto esperavam
uma nuvem macia pra deitar
ou olhos calados pra escutar.

brilhavam.
e o brilho era o grito agudo
lançado ao relento.
esperando que um vento
levasse o brilho pro vulto negro
dos olhos, no outro canto do universo.

e o grito versava em branco.
e o grito chamava as coisas pelo nome.
as coisas, surdas dos olhos,
não sabiam escutar
o rumor morno por trás do grito.

o brilho que emanava daqueles olhos
era a mais pura lágrima do cosmo
a profetizar o coração vazio
que jazia inerte sob um peito frio.

e o grito, de morno, ardeu.
furou, feriu, rasgou os olhos
que calados, arderam leves de sonhos
a chorar os versos que viajam
espaço e espírito à fora.

a estrela, de cansada, calou.
o poeta, de dor, se perdeu.

sábado, 5 de agosto de 2006

Crise de otimismo

Mãe, quero apaixonar
Coração que exploda!
Hora regressiva...
Estourar meu peito em vida!

Que cicatrize a felicidade
Onde estava a ferida.

Quero viver, quero gritar!!
Versar, correr, pular, fingir,
Fugir, virar cambalhota,
Amar, voar lá no céu
E além! Tocar o sol!
Quero chorar só de alegria!

Ouvir a música desse meu exagero.

Não, não!
Não engulo esse sorriso!
Já sei da tempestade.
Mas seu vento é trampolim!
Sua chuva, banho, rio, refresco.
Já vi o escuro e ouvi o nada...
Mas pra isso,
Minha porta está trancada!

Nem só de tristeza vive a solidão
Mas hoje eu quero é o mundo!
Abrir a janela e pular o muro.
Olha o riso desse dia!
Quero a grama
E o quilo do melhor sorriso!

Já não tem tédio
Na eternidade desse minuto.

Meu momento,
Gozo de pleno da insensatez
Do mais puro otimismo!

A vertigem da minha alegria.
A poesia dessa tarde.
Pôr-do-sol, ou lá se vem?!
O ilogismo dessa canção...


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PS: poema antigo... Pato Fu sempre me afeta pra melhor.

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Embora

rasgando a alma
na flor em ira,
fora a calma
mais bravia.

arranca a pele!
fura os olhos!
sangra a artéria!

chora, grita!
estúpida dor
que me arrebata
em chamas!

parte-me a hora
em metades
duas ou mais
de verdades cruas.

Co-lapso

a felicidade
é uma lágrima doce
clara prata
que rola só
num vulto.
um sussurro,
um sobressalto
um sorriso no sufoco.

a felicidade
era um mero lapso...

...de volta ao pó.

curto

meditando;
me em ti,
se tanto.

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Bateu uma saudade...

saudade é verbo intransitivo de dor
constante alívio
constantemente negado
frente o vazio
de sentir o que não está.
de ver o que se foi...
de tocar o vento.

respirar cada centímetro de ausência.
lembrar da falta que faz o que foi tudo.

saudade pula o muro e pega desprevinido.
saudade não conhece limite.
saudade não sabe ver as horas no relógio.
saudade é burra, e cega.
saudade... é só saudade.
saudade é a falta de tudo, em quase nada.

s a u d a d e s

saudo cada letra
pois atrás de cada uma
eu guardo aberto um sorriso,
e uma doce, e leve, esperança.

ai, esperança...
como me faz bem...
como me faz falta...

Escrever

...?
!
(...).

Noite em claro

quebrei a supra treva
que paria a noite em duas.
hoje a tenho una, em metades:
a beleza do escuro,
sutileza segura de segredos.
solidão bruta no claro
da alva pedra prata, lua.

tua pele nua
envolta em meu tormento.

desejo puro esse
que me parti cru:
rubro em febre,
frio qual defunto
- réu e vítima
do sentimento único.

vazio claro da noite
me arrebenta
na lua do teu olho

canto de quem ama
no escuro, na noite,

no sonho.

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Pousada

entre
a velocidade da metrópole
que grita nos meus olhos
e
a lentidão do campo
que me corrói as vísceras
ou
a solidão larga da estrada
que nem perde, nem basta

passivamente espero
uma placa na pedra fria
onde calado assim eu diga
"encontro aqui repouso, enfim.”

Silêncio

o maior poema é o silêncio
sem início, sem fim.
imaleável, inabalável, absoluto.

sem rima.
sem forma.
firme.

a reticência eterna
que brota antes do mundo
antes de tudo,
antes do sonho.

o silêncio é o rei de tudo.
jazigo que guarda vivas as palavras
e emudece as horas

Ícaro

como posso lhe contar desse vazio...
explicar essa lágrima?
desfazer esse nó na garganta?

tentei voar...

minhas memórias
minhas amarras

minhas asas de cera
em chamas
minhas dores

um vôo sem asas...

a estrela suicida
se atira na queda
pra sentir essa dor

um ponto
num universo frio.

o ponto de luz
pisca em soluços
brilha como lágrimas
onde acabam os sonhos
perdidos

Eclipse

luto absoluto
luta de quem ama de verdade
quase contra a vontade...

mudo, escuto o silêncio
tudo paz, mas peso em tudo...

padece podre o calor
na falta que cresce...

tudo quase, pelo meio...

ardem os olhos...
sem palavras me calo,
o peito grita de saudade!

Eu lírico

ele costuma fingir que é poeta,
ou revolucionário... lunático...
às vezes cisma em fingir que sumiu...
às vezes dá gritos pro vento.
outras vezes é puro calento
dos sonhos que choram
em curva alguma
onde nasce a reta e a brisa...

meu eu lírico gosta de voar,
gosta de pegar no sol,
gosta de brincar na chuva,
vive querendo se afogar,
e fazer pessoas de lama.

meu eu lírico finge que vive.
eu finjo que deixo.
ele finge que sou eu,
eu preso estou nele.

ele mente em mim
pra coisas que fingem
ser alguma coisa
precisa da mente
ou sopro no leito do peito
de emoções sonsas
e felizes
e bravias
e vazias...

não sei quem finge mais
nessa doce brincadeira de viagem:
se sou eu, como eu, ou em personagem.

não sei se morro
de tédio, de sono, de amor...

mas ele...esperto que ele só,
sei que vive pra sempre e sempre
na lágrima, no riso, no vazio...

no pó.

terça-feira, 1 de agosto de 2006

coisas nas coisas

as coisas
e a causa das coisas
se embolam: nós em nós.

deixa quietar o peito,
que o coração sangra
e acaba que vai tudo embora
no sangue da lágrima.

a cicatriz fica, sim.
mas menos vazia do que antes.
mais alegrezinha, até,
no fim.

Ao indigente andante

procuro teu rosto,
rota perdição de mentes e almas.

acaso não sabe
do tormento que transmite
sem face, em névoa,
na beira do abismo?

sem rosto e sem resto...
o que sobra?

sobra a falta que sinto
no falso dessa face.

minha? sua? nossas?

nuas as faces do mundo
corroídas e sussurrantes
atrás do muro.

Transe

Entre em transe

Entre o já e o ainda
Entre agora e hora e meia
Entra fora e vai embora
Hora clara noite inteira

Entre hoje e ontem
Amanhã fadado em momento meio
No certo que se fez do sonho
Tudo e todo é para sempre

Osso foi-se como ócio
Podre cinza feito fóssil
Cinza-sonho e nevoeiro
Quase tudo é quase inteiro .

Pedras no meu sapato

Pedras

percebo como é belo o arco
que brota íris na montanha
donde jorra sorrateira água morna
calma, plácida, no horizonte.

felizes as montanhas
que não sentem o vento.

felizes as rochas
ocas de sentido
e tormento.