quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

profecias de carne e poesia

de quando em quando surge uma manhã em meus olhos. por entre as sombras das flores que nas árvores do jardim suspiram primavera, o sol beija teu rosto com ouro fino. a brisa rasteja pelos leves lençóis de algodão, faz dançar de suave, numa embriagada e tardia balada, os teus cabelos negros. quem sabe quantos pássaros flutuam travessos no céu azul?

suspira despedindo de um sonho bom, ainda com os olhos fechados. há uma certa sinfonia discreta no teu despertar. por entre a janela semi-aberta, nem os vultos minúsculos do que ainda será labuta, descanso e prazer cotidianos conseguem adivinhar os teus seios, de onde brota um ritmo manso, de um coração que brinca de tocar tambor e bandolim, em plenas 8 da manhã, como criança da praça: regendo constelações e pedindo esmolas.

levanto, dou-lhe um beijo e abro a porta, como quem sai do sonho, como quem foge, como quem abandona.

que a colombina me espere até o próximo carnaval.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

salma

a alma na montanha, saudosa de oceanos.
as pernas e as penas soberanas,
querendo olhos e escamas.
coração contravenção só
entre um paradigma e o outro.

nas entrelinhas do tempo - ou refeição de gigantes

como tem passado?
tem passado como?
"como" tem passado?
comido? comida?
como indigesto, passo?
como pasto? asno?anos?
como como quem come passado?
tem passado? como?
como teu passado - à la Cronos.

ausências próximas

saudades são sempre mais suaves?
algumas o são, e mais:
suaves metais.

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para c. de cássia