segunda-feira, 7 de novembro de 2011

é uma mania minha essa: ser tudo o que sou no que não posso. se fosse ainda pouco, ainda o rosto só, fachada, ainda ia... ainda dava pra ficar calado. mas tem um coisa, uma coisa meio torta, destrambelhada, que na feiura insiste em se sentir cisne perdido e encontrado, desejoso de gracejar por entre a névoa, no lago tão profundo que é vontade, que numa tarde ou outra da vida a gente encontra dentro dum jardim, dentro do amanhecer, num funeral, num olho de menino (olho que já tivemos, e já não somos).
pois essa coisa torta cisma em grasnar vez ou outra, para fazer com que as nuvens caminhem, pra apontar uma direção oposta, pra virar a página do caderno tão mas tão branco que é a vida apagada dessa gente... grasna pra não fazer coisa nenhuma. só pra marcar um passo na valsa do tempo, uma nota no canto do coro (tão inaudível coro humano), uma trégua mínima da consciência. e ao invés de roçar a garganta no vento, roça os dedos nas paredes, na grama, no asfalto húmido da quinta-feira, nas frutas da quitanda, nos copos, nos olhos, nos beijos, no tão eterno e frívolo branco da mente, na tão pequena e terrível dúvida que é a vida, no tão esperado e contente sono da arte para pôr fim, traçar a reta, cingir e dispor no palco umas palavras, e esperar, quem sabe, que um público apareça... um publico que será eu?

domingo, 6 de novembro de 2011

relance

lava minha culpa
que entre as pernas
ela doce escorre
um tanto demente
como espuma

seca minha fé
maré de penas
ela olha e dorme
meio à ramagem
dos seus lençóis

nina a volúpia
que no ventre
no caos morno
dessa tarde
é carne rija