é pouco e tanto o gesto que de cá se apreende,
que na vida quem não pode ser senão ausente,
querer possa a voz que não lhe ressoa,
pois que a boca corre à voz de outra pessoa.
já amar não se pode o que não se perdoa,
esquecer jamais o que já é corrente,
enxergar não mais o que se povoa
no pavor austero de névoa diligente.
pois se como essa gente, farta
e morta na loucura ordinária
(d' aurora ao pôr do sol, pois, é o que se sente)
findar eu não possa como outro indigente,
mas marcar nas areias inconstantes
a voz pouca que me prende.
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camões, cá em outras terras, me oriente,
num ocidente mais originário
e ordinário do que se pretende
(mais fabuloso e banal do que o que se sonha),
no frescor de auroras mais antigas e mais potentes
(quando não mortas),
mais jovens e mais vazias
(quando, em sempre, renitentes).
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saudades de ser outro.
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ao xará, matheus batista, (parecidos nós mais que só no nome) os terceiros poemas em terra estrangeira.
Um comentário:
é, meu velho, portugal tem feito-lhe bem. agradecido pela lembrança - que aliás já havia visitado essas retinas tão fatigadas -, mas só agora resolvo falar.
é que eu lembrei dessa "saudade de ser outro' que ando bem partilhando e resolvi vir cá.
grande abraço, meu velho.
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