terça-feira, 6 de novembro de 2012

A vida é uma lágrima de alegria. É o choro do filho que me espera pra nascer um dia. É, do amor, uma doce voz de fera. É flor sem primavera. É essa amante devassa e viúva. É aquela pouca chuva de sertão. Uma grão de desejo semeado na pedra. É mãe louca de filha ingrata. É irada fome das famintas certezas, dos infinitos excessos, dos desconhecidos excetos, dos erros exatos. É andorinha que conjura
 o verão, por menor que seja. É uva que profetiza vinho. É todo e qualquer caminho, é comum e comunhão, destino.

Existe vida no meu espelho, no cinzeiro, na janela? Existe vida na menina ensanguentada de guerra? vida nas madrugadas sem coberta? vida nas salas de aula? vida nas pedreiras, vida nas calçadas, vidas nos asfaltos, vidas nas facas, vidas nos revólveres, vida nos cadafalsos, vidas na câmara de tortura, vidas nas celas acolchoadas, vida na UTI, vida nas praças desertas, vida nas pequenas mazelas, vida nas crianças sem nome, vida nas poucas palavras que restam? vida no sonho, no abandono, na morte?

há vida, pulsante, desejante, num florescer glorioso e agonizante até no aqui e no agora, até no branco da página.

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