domingo, 18 de fevereiro de 2007

póstumo


peço de volta aos céus
minha alma que levou o vento
no ventre da terra jaz meu corpo
podre ao sabor do tempo.

minhas memórias corroídas
as finas retinas desalinhadas
a ausência do nunca
me toma os lábios

o peito encardido
surrado, vadio...
nada a guardar.
coração despedaçado
nem carece de abrigo.

as mãos tocam ligeiras
as nuvens de algodão
além das trevas.

nem tudo está perdido,
nada além da sanidade
ou do sentido
esvaeceu.

só não há de sumir o tédio
nem a dor, nem a saudade,
nem a vontade louca
de pular do prédio.

construção de concreto chamada vida
insensatos que são seus andares
e corredores e moradores
e suas tardes modorrentas.

há sempre um salto
por trás de cada janela.
um salto e uma queda
(eterna).

o salto que abraçarei
terno e para sempre
de asas abertas.

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*imagem:
http://fotogui.blogs.sapo.pt/arquivo/Janela-A.jpg

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