quinta-feira, 13 de setembro de 2007

a transubstância

essa lágrima clara
é a matéria dos sonhos desfeitos

é essa parede branca
a resvalar todo esquecimento

é essa lua branda
a expurgar todos os defeitos

é essa palavra fria
a lacerar todo sentimento

é essa pessoa fina
a vagar curso incerto

essa lágrima amarga - e clara
como pesadelo mais vivo

que suavemente apaga o sorriso
e docemente dança no meu rosto

retrata tudo que é imperfeito
essa gota de esclarecimento

e é o bem mais sólido que tenho
nesse paço imenso, nessa vida e devaneio

essa lágrima clara, em suma,
sou eu revelado e inteiro

dobrado sob um peso imenso
de um sonho, uma gota, um espelho

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a lágrima
é enfim isso que ensina
o fim e a sina

domingo, 9 de setembro de 2007

cala calamidades

perdão pela dura palavra
que você não disse.
desculpa essa pressa,
que torna tudo tão curto.

me absolve esse devaneio
louco que nunca quis te revelar
e esses traços na parede
que não te deixei riscar.

não me julga pela pedra
que eu joguei pro ar
e caiu nas suas costas
pra tu sozinho carregar.

lamento tantas horas que engoli
no tédio insuportável de te esperar
- afinal, como esperar por ti
que sempre carreguei no meu olhar?

lembro dessa falta de sentido
que nunca permiti
e essa tanta desmesura
que sempre infligi.

olha esse poder grande
que eu sempre tive:
de calar o universo
daquilo que eu nunca proferi.

perdoa, minh'alma,
essa minha tão tola criatura
que no defeito te reflete
impura

nesse mundo avesso
do outro lado do espelho
em que o silêncio te espanta
e me mata.

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*foi, sei, tola a tentativa
tentar te calar pra suprimir a dor.
tudo fica pior quando não te digo
sussurrando no ouvido
tudo isso quanto for
misto de calor e frio
a vagar no meu mundo
no meu corpo à fora.