terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

sorrateiro


meu medo da esquina
alarma o meu silêncio

o que haveria lá
no fim?

a próxima rua?
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dúvida-prisma

o que haverá
atrás do verso
dessa folha?



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*me sinto estranho por esses dias...
como um menino bobo sem saber o que move as núvens, como floresce o dia ou brota a noite na janela, depois do fascínio enevoado da alvorada...
as árvores não param de sussurrar uma melodia desconhecida.
a água que flui pelos meus dedos, some antes de me dizer um motivo de qualquer coisa.
o verde da mata, que mancha meus olhos, não me trás também resposta alguma.
o vento sibila alguma profecia em menor tom... não entendo direito o que ele diz.
e a estrada, imponente, perante os meus pés tão pequeninos, me ameaça com um olhar morto.
(será que ela leva a algum lugar?)
o que andará atrás daquele monte? como posso tocar o horizonte distante, se ele sempre me escapa?
como posso eu , por Deus, querer poder alguma coisa???!!
afinal, não sei ao menos se ainda existo.

tenho muitas dúvidas nos olhos, e muitas lágrimas loucas, prestes a nunca serem derramadas.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

a confidência esquecida

na conversa longa
com o tempo
o silêncio só
me responde
sim

domingo, 18 de fevereiro de 2007

póstumo


peço de volta aos céus
minha alma que levou o vento
no ventre da terra jaz meu corpo
podre ao sabor do tempo.

minhas memórias corroídas
as finas retinas desalinhadas
a ausência do nunca
me toma os lábios

o peito encardido
surrado, vadio...
nada a guardar.
coração despedaçado
nem carece de abrigo.

as mãos tocam ligeiras
as nuvens de algodão
além das trevas.

nem tudo está perdido,
nada além da sanidade
ou do sentido
esvaeceu.

só não há de sumir o tédio
nem a dor, nem a saudade,
nem a vontade louca
de pular do prédio.

construção de concreto chamada vida
insensatos que são seus andares
e corredores e moradores
e suas tardes modorrentas.

há sempre um salto
por trás de cada janela.
um salto e uma queda
(eterna).

o salto que abraçarei
terno e para sempre
de asas abertas.

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*imagem:
http://fotogui.blogs.sapo.pt/arquivo/Janela-A.jpg

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

pós tu amor

depois dessa loucura
de dizer te amo todo dia,
depois dessa brisa boa,
dessa alegria,

depois dos anos juntos,
um ao lado do outro,
depois da rosa em broto
que eu sempre lhe trazia,

depois dessa coragem
de ser sem-vergonha,
e de falar bobagem
e contar estrela,

depois de andar na grama
com os pés descalços,
depois de amar
na imensidão da cama,

depois de jurar
fazer feliz,
depois unir as almas
em pura ilusão...

depois de todo sonho
de toda essa brandura
a dura parede
do desencanto.

rompe a noite
a lua fria
e todo amor
vira lamento.

o canto que se cantava,
o amor que se amava,
a alma que se tocava,
tudo isso morreria.

depois de tudo,
peito em luto.
o que era mel
vira fel nas veias.

a alma agoniza,
o coração rasga
de papel,
como fora todo o resto:

o amor, o aroma,
o coração que ama,
a cama, a alma...
as cartas e os poemas.

depois de tudo,
do além de tudo,
sequidão.
sede sem fim.

o amor jaz entre a relva
sem sempre, nem diamante,
nem palavra de juramento.
o amor se vai sempre.

e sempre é o fim.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

pegadas

pra que voltar da jornada
de felicidade?
por que voltar
de qualquer parte?
pra que desfazer o sorriso?

na verdade,
talvez não seja
a tal felicidade
o que eu preciso...

o horizonte, parece,
sempre enseja
no peito indeciso
um pouco mais de agonia.

quão vasta a jornada...
quanta treva nos caminhos...
pés palmilham estradas
nunca encontram ninho.

o horizonte que procuro
meus pés nunca hão de tocá-lo.
ele há de morrer no sonho
e na vontade...
no escuro.

cada palmo desse mundo
me leva a um muro
- beco sem saída.

caminhar, pra que isso?
os passos, parecem,
nunca dão em nada!

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*busca não tem fim
(diferente da alegria).
quem tem fim
é o viajante
que acaba em ossada
jogada no esquecimento,
sem pés,
nem letargia,
nem poesia.
só o pó da longa estrada
- nela ele se eleva
de senhor a hóspede
de eterna morada.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

nem tudo num tampouco

nem todo suor é da labuta.
nem toda tristeza é de agonia.
nem toda morte vem da luta.
nem todo amor é fantasia.

viver toda tristeza
não é morrer de fato:
vivendo-se, morre - certeza.
(seja no espera ou no ato).

viver é já mortalha
que visto sem lamento
numa louca batalha
contra o vento.

pois há de vir no vento
o tempo da tempestade
a embalar toda a cidade
em dissonante intento.

a morte há de levar
até as crianças nos braços
mas não tremo em constatar
na vida semelhante traço.

se na calma pressinto a peste
"verdade" sei que essa se chama.
velas ao leste!
quero tocar do sol a chama.

tocar, sentir queimar
antes que tudo se perca
em meio a vento e a poeira.
em meio a papel e a solidão.

pois não há cerca
pro meu descompasso,
nem mínima razão
pr'essa loucura.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

classificados

vida vadia
procura urgente
vício cio
e solução