terça-feira, 26 de dezembro de 2006

abalo

no vazio uma balada
badala o sino
o sino cambaleia
distorce o sino

na noite e na agonia
refaz a sina
badalar inteiro na vida
a vida inteira

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

ainda melhor

melhor do que cansar é descansar
melhor do que viver é sonhar
melhor do que morrer, dormir
melhor do que dizer, sorrir
melhor do que calar, gritar
melhor que escrever, cantar
melhor do que ficar, partir
melhor do que olhar, andar
melhor que esquecer, amar
melhor do que matar, trair

melhor é não viver, não amar,
não partir, nem ficar, nem dizer,
não sair, não trair,
ou matar nem morrer.

melhor do que o mundo,
e nada mais que o mundo,
é cair no fundo dum poço
chamado poesia
e lá morar até o fim
dos mundos e dos verbos.

terça-feira, 28 de novembro de 2006

aniversariando


olha cá, bem dentro da minha alma.

responde pra mim: viu?
responde o porquê de tudo
o pra quê, o onde, o como...
me diz tudo quanto pode
só de analisar esse lamento,
essa alegria,
esse momento.

me diz tudo que pode
me diz tudo, se pode
que, podre, eu te escuto
tudo.

desvenda-me
ou me devoro.

desvela minha alma,
que na lama eu gozo
enquanto espero
à minha dúvida
o teu retorno.

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fazer anos é muito esquisito:
achava que ia ser tudo diferente...

mas o sol raiou,
a núvem passou,
a rosa brotou,
pensamento pensou,
olho olhou,
boca falou,
o vento voou,
o jovem morreu,
o velho expirou,
o bonde passou...
a noite nasceu,
a estrela brilhou,
o sonho sonhou...

é tudo na mesma.
o que mudou?
mudou...
mas é o mesmo de ontem.

domingo, 26 de novembro de 2006

limites


já não há espaço
nesse corpo.

já não me cabe
esse cárcere,
maldição bendita
(a carne podre).

a palma grita
pois a alma lhe rasga
em não-caber.

e, se há doce sabor
no espírito
(posto que a língua
lacerada e trêmula
não mais diz
ou delicia nada)
este é do simples
instante que existe
e insiste apesar de tudo.

apesar do nojo
da ânsia
do vômito
e da vertigem de viver.
(fuligem-fulana
que corrosiva traça
destinos
no quadro negro
do céu noturno)
nem a estrela (de)cadente
me realiza algum desejo.

sábado, 25 de novembro de 2006

re-sentimentos

...
mais sinceras são as lágrimas
(aquelas bem peroladas)
do que as palavras dos homens.
lágrima é água (gota-oceano)
e nada mais;
sem segundas intenções.
já o coração que chora...
esse dissimula sentimentos,
não merece consentimentos
ou comiserações:
merece sofrer
pra sangrar lágrimas
até cairem no papel.

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*quanto ao título,
é engraçado,
e pertubador,
como as coisas se repetem
(totalmente diferentes)
do que nas semanas passadas
semeadas na terra fértil
da má-aventurança
bendita de viver.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

cotidiano


aurora vermelhada
sangra toda elegia
plena madrugada

meio dia em meia hora
no meu quintal
raios caem como flechas

vespertina flor floresce
com suas raízes já na noite
pressentindo o seu destino

noite branca e cara pálida
palacete dos sonhos caídos
nem a flor vermelha da alvorada
me compadece com algum sentido

tudo tido tudo feito
chega logo a meia noite
e tudo refaz
e tudo finda

infinita noite
nunca morre a meia noite
nunca brota a madrugada
nunca troca coisa por outra
infelizmente

melindroso



infância, adeus.
alegria, adeus.
adeus, inocência.
vivacidade, adeus.

perdão, menino meu,
é que nada me acontece.

minha alma não amanheceu.
resplandece blassé,
mereceu até
névoa argentina.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

vagações


hoje, cercado de erros
procurei atividade:
fui enterrar o tédio
nas pradarias.

vaguei as serras
e montanhas frias.
bebi dos vales
toda calmaria.

e nesses rios tortuosos
naveguei calamidades.
na noite escureci
meu medo da verdade.

nas cavernas descobri
galerias sombrias
dos desejos mortos.
mutilados e esquecidos.

as pontes ligavam
mais que as terras:
costuravam dores.
infecciosas e rotas.

e a calmaria sumiu?
a calmaria dormiu.
vegeta enquanto,
sozinho,
violo cemitérios.

nos parques esperam
lembranças a serem
despertadas dos bancos.
solfejam de agonia,
semi-mortas.

as cidades escutaram
indiferentes,
esses meus passos.
os vilarejos derretiam
na beira da estrada.

a estrela inconsciente
ressonava em pingente,
como corda no pescoço lunar.

amanhecia já o novo dia
e a aurora sem trova
desfez a razão
da viagem e do peregrino.

roubaram as pradarias.
não existe paragem.
só ilusão.
um oásis mágico,
além de toda suspeita,
e de todo jazigo.

...acabei por enterrar
meus sonhos, e meus restos,
no fundo do quintal.

sábado, 11 de novembro de 2006

cronologias


o tempo transgride a esquina.
não vê o sinal vermelho
ou qualquer outro.

o tempo atravessa a rua
e a casa e a alma
e a entranha.

o tempo muda
a cara muda
a boca muda.

tudo muda o tempo
que atravessa tudo mudo,
silencioso e inconseqüente.

o tempo rompe a calma
o tempo espalha lágrima
o tempo voa além das nuvens

o tempo não pára como os relógios
o tempo não morre...
não eu não tu nem eles. só, o tempo.

eu sumo. tu somes. nos fomos.
- sombras de areia
da ampulheta cósmica.

poeira sobre o tablado
poeira da tapeçaria
nas sepulturas
(tapeçaria: onde jaz seu tecelão?)

o tempo cala até os livros.
e cela os restos
sob a terra fria.

o tempo mata
até as lembranças.
e eu com isso?

sumiço.

tudo quisto engole o tempo.
o tempo engole tudo tido:
a cara, o espelho, a vitória, o vestido,
a espada e a estátua, os palacetes...

todo pretérito é perfeito
e todo futuro inexato
estraçalha o peito.

...chronos ainda é,
e muito,
senhor o mundo
e dos vermes.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

mentirinhas

não faço
nem desfaço:
disfarso
tudo à quilo
que é falso
em versos.

nisso tudo,
aquilo fica
fácil e dócil.

e tão sereno
que parece
quase dá
pra ir levando
(o velado futuro)
com as mãos...

pois se nada houvesse,
bastava a poesia
pra que tudo fosse
uma verdade alegre
na poeira dessa vida
vazia.

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*bem que vovó já me dizia
que mentira tem perna
curta.

sábado, 4 de novembro de 2006

ilimites




minha poesia só é limitada
pelo limite dos meus sonhos.
sonho alto, portanto,
pra fazer grande o que sinto.

e o que sinto se cala.
e o que se cala consente.
consente a falar um nada
na folha ausente.

minha poesia é a minha ausência.
minha poesia é o que não tenho
e o único refúgio que se esconde
na palma da minha mão.

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*eu fasso poesia
a poesia me faz
...
e tudo faz sentido.

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as mil palavras por trás do gesto

até parece
que é vivendo
que a gente percebe:
as palavras falam,
cada vez mais,
menos.

*imagem de http://ttv.paksut.net/photo/12.2.05_setti/images/hand.jpg

rosa de hiroshima


Pense nas crianças mudas telepáticas
Pense nas meninas cegas inexatas
Pense nas mulheres, rotas alteradas
Pense nas feridas como rosas cálida
Mas Só não se esqueça da rosa, da rosa
Da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária
A rosa radiotiva, estúpida inválida
A rosa com cirrose a anti-rosa atômica
Sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada

(Vinícius de Morais)

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e a rosa
era cinza
e subia leve...

até cair em chuva
radioativa.
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o que se pode dizer
diante da perplexidade
da fissão atômica?

morreu.

mas foi só hiroshima?
eu temo...
e acho que não...

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

razões



o que sinto
não cabe nesse corpo
ou naquele copo.

por isso, e pó,
escrevo.

só por pó que sou.
só por só que sei.
pois só no pó me dou
comigo mesmo.
e sem dó.

por isso o pranto.
e por isso o canto.
e por isso tanto.

e adeus.
(e pra isso, o ponto).

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

pega ladrão!


ruiu:
ruptura.
raptora:
captura.
rápido!
rapto
apto:
apta
palavra
ríspida
apita,
capta,
e opta
o poeta
(sem pedir
ou perder
a permissão).

-------

*o que é o poeta
se não um ladrão
de letras-pérolas?
poeta é des-ilusão
de fazer a festa
na escuridão
(eterna).

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

conta gotas

pois digo o que sou:
o grilhão dos meus sonhos.
todos, parece, jazem mortos
abaixo dos meus pés.

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ia dizer alguma coisa...
mas o átomo átono
rompeu minha voz.
comi
o cogumelo radioativo.

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é pau é pedra é o fim do caminho
da pedra
da perda
da porta
do mundo
de moinhos
e gigantes
...e tontos mais
outros devaneios...

-------

parece até certeza,
mas me privo das certezas.
certezas são mentiras
que ainda não se descobriram
como falsas metades
de uma garrafa vazia.

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posto que és muito bela
árdua foi, pois, esta tarefa:
achaste como mais bela
entre as estrelas seladas
dos teus olhos singelos,
e tão profundos,
nos quais me encerro.

-------
PS: te vez que saem gotas, não pérolas nem lixo.
gotas pequeninas
e nada mais e nada menos...

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

fissura


que exploda o mundo num segundo momento
e todas as idéias sem qualquer lamento
e todas as vozes em unissono sereno
e os inocentes vestido de veneno
e toda dor que corrói com o vento
e todos os rostos tortos do pensamento
e todo medo que me cega lento
e todo grito e toda morte e todo sopro
e todo tudo e poucos e loucos e mudos
e cegos do peito demente
e tudo em parte e sempre

que se exploda tudo
tão logo eu suma
num eclipse atônito

quero a morte atômicada
explosão cósmica
e que tudo finde de novo
pra recomeçar
calmo e morno
depois da meia-noite

----

*acredite!
no que
você quiser.

o mundo acaba
todo dia.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

o poço serafim



no que me cabe nesse mudo:
silêncio e uma pena eterna,
voar com asa ansiosa e presa
no longo precipício das luzes.

as vozes me sopram notícias
dissonantes doutros lugares.
mas acaso existem outros
que estes que trago em mim?

a vista do olho do vento, invento
passatempos, e tempos e eras
e trevas e linhas e traços.
tudo desfaz o sabor do vento.

ao cabo de tudo,
sem nada
acabo.

será?
sem fim a queda
sem fim o tombo
sem fim
fim

.

--------
*eu sou o nada
posposto
ao ponto
final

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

d'água


da lágrima de riso,
de torpor da pena,
de traço, de pequena
e singela.
da janela sem fim
que cai na lama.

gotas
todas elas
e qualquer uma.

todas elas
(tão iguais?)
e tão singelas...

mas me acolhem
na manto de yamanjá
no tridente de poseidon
no suor de deus.

me dissolvem puro
no universo azul.

e eu sou ainda
menor
que gota d'água.

domingo, 8 de outubro de 2006

parenteses


se aproxima o feriado
e ferido, desço o rio
e vou pro mar.

no sal de dunas líquidas
recupero-me da saudades
dos tempos em que era peixe,
girino, estrela, lua e água-viva.

...sandices.
ferida de saudade não fecha
nem com mertiolate,
nem com as lágrimas,
nem com os pulsos cortados.

saudade se cura no sonho
e no tempo.

um grande abraço,
braço branco dos antigos
rostos que carrego
no meu peito nu.

por osmose
amargo o mar...
ou não?

só é claro o turvo
e tudo até parece solução
nas derradeiras madrugadas
(insolúveis).

---------------------------------

vou descer a serra, de verdade. tem uma semana inteira pela frente em porto seguro...
fazer o quê?... semana que vêm eu tô de volta...

PORTO QUE NOS SEGURE!!!

terça-feira, 3 de outubro de 2006

vasto mundo

Raimundo,
não chores tanto por tua rima
não caber no meu rumo,
pois o mundo é maior que o verso,
que as bananeiras ou os muros.

Bem sabes que a vida é injusta
e cega,
e nem sempre vê direito
os passos tortos dos homens
ou lê direito a língua dos anjos
nos poemas, ou fora.

Justo os poemas,
que não têm passado,
nem solução, nem nada...

Só as palavras,
como se palavras houvessem,
ou bastassem
pro mundo e pra vida...

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

calmarias

atrás da porta
jaz meu amor perdido
no devaneio dos beijos teus.
onde andarás, meu amado,
se eu acaso agora beijo a tua sombra?
minh'alma que busca a tua
no horizonte celeste.
te perco, pois eis que esqueço
minhas asas embaixo
da escada divina.
---------
onde a sombra de Deus
se alonga, se esconde
e veste preto.
e a língua tirana
lambe fogo gelado
a minha boca
e as minhas pernas.

e o mundo debaixo da escada
vibra, geme, rola, morde.
tudo é pecado.
tudo é maravilha.
tudo é permitido.
tudo é carnaval.
--------
à sombra de Deus
Sua face virada
Sua face ferina
Seu lado tirano
Seus anseios mais negros
maior de todos os planos

humanos em jogo.
que mais lhe custaria:
a vida de um zigoto?
ou uma vasta putaria?
assim é a vida.

assim é o que é
que deus imaginava
quando pôs no mundo
a anta e a jia
pelados e burros
bípedes e bizarros animais.

enquanto dormimos,
deus dita o mundo
de baixo dos panos.
-----------------------------

*... poemas irmãos.
um criou o outro
o outro criou o um.

afinal,
de quê estou falando?
do poema?
ou não?

canto de canteiro

magnólias, crisálidas
rosas de tortos crivos,
espinhos.
beijos e azaléias
cravos brigados,
cravados na terra,
sozinhos...

flores mortas nos canteiros
brotam rotas nas janelas
flores: dores pra quê te quero?

Trouxas insólitas de pétalas.

(sem nome)

descobri no canteiro
uma vontade doida de plantar
uma flor mera que seja

vermelha de sangue
branca, cálida e pálida,
que brotasse da pedra
no caminho do poeta.

Pacífico

Desejo-lhe a desgraça mais pura,
A miséria e a doença em copo de cristal.
Desejo-lhe desavenças cruéis
Perdas de todas as espécies
E torturas sem fim em lâmina fria.
A solidão do caixão lacrado.

Desejo-lhe a calamidade, a catástrofe,
A ignorância abençoada dos sábios perenes.
Desejo-lhe estrume em prato de ouro,
A garganta aberta pra gritar,
Coberta suja de mortalha usada.

Desejo-lhe o calor do inferno
Afogado no fundo do desespero.
Desejo-lhe saudade alguma, e toda guerra.
O coração fraco e as veias entupidas de nojo.

Desejo-lhe queimado e agonizante
Espero-te mais seco e roto
As pernas quebradas e os braços tortos
O rosto disforme e a ossada indigente
Desejo teu corpo esquecido no quarto
Desejo-lhe o tiro a queima roupa
A agonia lenta e torpe
Desejo-te podre
Sete palmos abaixo
Dos meus pés

Maldito, mutilado, morto.
Perdido na alma e no corpo
As tripas saltando o ventre
O sangue jorrando dos pulsos
E meus punhos ao teu pescoço.

domingo, 1 de outubro de 2006

ode ao grão de areia

caiu um cisco
no meu olho,
e se fez o eclipse!

pra que preciso da lua?
dançar nua pro sol?

prefiro a plenitude
desse grão simples de areia,
que pelas eras move as dunas
e tempestades na ampulheta.

e que cabe mansinho
na palma da minha mão!

batom vermelho

aos teus lábios rubros
repouso meu sonho.
rendida aos seus pés,
jaz perene minha língua
e suas palavras.

doces lábios,
rubros e deliciosos...
lábios de mel...

...até o meu desejo
guarda o teu sabor.

regressão

não existe oceano nem horizonte,
pois o rio dos meus olhos
hão de secar tortos
nas minhas mãos trêmulas.

pois quando voltardes
pelas estradas da noite,
vestirei meu melhor sorriso
e meus lábios estarão mais doces
pra encontrar os teus.

e meu coração,
que anda ébrio
pelas veredas do desatino,
encontrará retidão
no conforto da alma.

pois o peito tem caminhos
que não conhecem os neurônios
...e a pena cai inútil no meu chão.

dinamarca apodrecida (tributo a hamlet)

é o sepulcro violado do pai dele,
donde sai o fantasma psicótico
à madrugada para assombrar
as veredas da razão...

a podridão dos seus ossos
refestela feliz
a companhia do luar frio
à meia noite...

até as entranhas do rei
ficam secas e encardidas
onde os vermes fazem festa

e até o ouro apodrece
e até na morte há vida
enclausurada num caixão

domingo, 27 de agosto de 2006

Legislações

abaixo a burocracia da vida
que inconsciente dita
o universo atrás dos panos!

abaixo o amor jurídico e jurado.
viva o amor vivido,
o amor amado, retardado e cego
para as leis!

viva o departamento dos sonhos
no esquema estúpido da vida.

murphy com o inferno pras suas leis,
ou com suas leis pro inferno...

crio a constituição do meu caminho
sozinho, e o mundo no peito
pra sentir o que eu sinto,
livre e por inteiro.

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Poema vampiro

um brinde largo à poesia sangue-suga,
que arrebata do fundo das veias
a inspiração fluída que se esconde
no recôncavo do universo interno.

suga à superficie da alma
a dor sublime dos deuses
de criar com a palavra simples
mundos e novos mundos
de palavras vagas, puramente.

escorre lento o sangue de letras
da artéria pulsante do poeta.
gritando baixo e sincero
a verdade bruta e incerta:
poeta bom é poeta morto.

morto e seco sobre o papel
que aflora teu sangue escuro
na planície branca e funda da folha,
alagada de sangue puro e podre
do poeta incerto e torto.
------------------------

afinal...
de que vale um poeta?
uma pétala de Iroshima.

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Ode ao vazio

ressonante...
















...assim me disse o vento.

domingo, 13 de agosto de 2006

Brincadeira de criança

a esperança
brincava
de equilibrista.

ela caiu.

e sangrou
até morrer,
coitada...

sábado, 12 de agosto de 2006

Noite dos namorados

a noite se mostrava.
estava clara pela janela.
lá estava eu.
lá estava ela.
lá estava o silêncio.

o vento soprou num canto
perfumado do jardim.
e cheiro veio lento,
doce e leve, assim...

tocava a pele plácida,
clara essência de sonhos.
e o calor a me embalar
era pura poesia.

senti o tempo passar
olhei a lua brilhar...
olhei o olho dela.

tudo lindo, tudo limpo.
tudo belo...

tudo tédio.

... joguei merda
no ventilador!
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hehehehe!
Desculpem... foi quase sem querer.
não pude perder a oportunidade...
voltemos a seriedade pórrica do amor.

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

De verdade em verdade vos digo

na verdade,
acho que é puro fingimento,
achar que sinto esse tormento.
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Tardinha de hoje...

Tem dia que paira uma nuvem multicolorida na minha janela. Parece risonha querendo brincar: rola no céu, gostosa, se esparrama naquele azul infinito. Eu até que quero.
Mas coitados dos meus braços... As minhas mãos arderam envergonhadas...
A nuvem passageira ficou só na vontade. Foi passando, sumindo, dissolvendo... e foi embora.

Agonia

de tudo que cinge o cosmo,
prefiro fingir que é pena
esse brilho nos seus olhos
perolados de negra tinta.

preto que chora o branco.
branco que rola lento.
mais lento é o tempo que leva
pra cair brando o pranto pálido
nessa minha alma pequena.

palma simples que pede calma
pra respirar fundo,
perante, inerte, ao fim do mundo
e do grão de areia.

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Mimos de domingo

sopra o vento em meus cabelos.
lambem as ondas os meus pêlos.
será que desse tédio sobrevivo
aos doces mimos que careço?

Reação (i)Lógica

Fé de ferro

é corroída

pelo oxi-gênio humano.

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PS: - viva o ceticismo, e as aulas de química.
- viva o ceticismo só mesmo... dispenso a química...
- viva, ainda que seja de mentira. (a vida ou o ceticismo? não sei...)

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Simplicidade

poesia é simples
como a flor
e a bomba atômica,
a dor
e a paz atônita,
a dose ultrapassada
do equilíbrio sóbrio.

a poesia é simples
e dura como a realidade.
é a porta torta
para o sonho errante.
a poesia é pura,
orgasmo da alma.

a poesia é sempre
um grande nunca.
a poesia sopra
o vento dos tempos
nos olhos do homem.

a poesia sobra?
a poesia falta?
a poesia escapa?
a poesia nua?
a poesia é falsa?

há poesia.

no branco da página.

(...obrigado ...)

(Fico feliz, caso consiga abrasar corações e cabeças.
Caso seja muito imaginá-lo, agradeço então a simples atenção desses teus olhos desconhecidos.
Um grande abraço, carinho de bobos que somos todos nós nessa valsa de circo: dançar tão sonsamente em cima dessas linhas poucas, cordas bambas de bambos sonhadores.

obrigado, previamente, aos poucos olhos que viram esse ponto meio escondido, meio tímido, nesse vasto mundo falso de palavras e números que seguem sonsos na rede. Sincera e humildemente agradeço alguns carinhos que tão logo recebi... espero continuar contando com a presença de vocês se possível, querida platéia do meu circo invisível.)

Aposentadoria ( ou o assalto )

retiro minhas linhas dos meus bolsos
assustado, humilhado talvez.

de que vale um poeta
sem essa moeda de duas faces?
sem esse sopro, sem essa vida?
sem as condoídas mãos fiandeiras de sonhos?
sem o poema de prata e madrepérola?

retiro, contudo, tudo
num soluço só.
nuas as paredes da vida,
como deve ser.
ou não, talvez.

talvez, e ai quem me dera,
ter um verso pra mim.

já me levaram embora,
calaram um poeta
e um poema, enfim.

Noite sem nuvens

parei do nada pro nada
pra talvez, não sei,
olhar calado as estrelas.

do alto olhavam...
do alto piscavam...
do alto esperavam
uma nuvem macia pra deitar
ou olhos calados pra escutar.

brilhavam.
e o brilho era o grito agudo
lançado ao relento.
esperando que um vento
levasse o brilho pro vulto negro
dos olhos, no outro canto do universo.

e o grito versava em branco.
e o grito chamava as coisas pelo nome.
as coisas, surdas dos olhos,
não sabiam escutar
o rumor morno por trás do grito.

o brilho que emanava daqueles olhos
era a mais pura lágrima do cosmo
a profetizar o coração vazio
que jazia inerte sob um peito frio.

e o grito, de morno, ardeu.
furou, feriu, rasgou os olhos
que calados, arderam leves de sonhos
a chorar os versos que viajam
espaço e espírito à fora.

a estrela, de cansada, calou.
o poeta, de dor, se perdeu.

sábado, 5 de agosto de 2006

Crise de otimismo

Mãe, quero apaixonar
Coração que exploda!
Hora regressiva...
Estourar meu peito em vida!

Que cicatrize a felicidade
Onde estava a ferida.

Quero viver, quero gritar!!
Versar, correr, pular, fingir,
Fugir, virar cambalhota,
Amar, voar lá no céu
E além! Tocar o sol!
Quero chorar só de alegria!

Ouvir a música desse meu exagero.

Não, não!
Não engulo esse sorriso!
Já sei da tempestade.
Mas seu vento é trampolim!
Sua chuva, banho, rio, refresco.
Já vi o escuro e ouvi o nada...
Mas pra isso,
Minha porta está trancada!

Nem só de tristeza vive a solidão
Mas hoje eu quero é o mundo!
Abrir a janela e pular o muro.
Olha o riso desse dia!
Quero a grama
E o quilo do melhor sorriso!

Já não tem tédio
Na eternidade desse minuto.

Meu momento,
Gozo de pleno da insensatez
Do mais puro otimismo!

A vertigem da minha alegria.
A poesia dessa tarde.
Pôr-do-sol, ou lá se vem?!
O ilogismo dessa canção...


---------------------------
PS: poema antigo... Pato Fu sempre me afeta pra melhor.

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Embora

rasgando a alma
na flor em ira,
fora a calma
mais bravia.

arranca a pele!
fura os olhos!
sangra a artéria!

chora, grita!
estúpida dor
que me arrebata
em chamas!

parte-me a hora
em metades
duas ou mais
de verdades cruas.

Co-lapso

a felicidade
é uma lágrima doce
clara prata
que rola só
num vulto.
um sussurro,
um sobressalto
um sorriso no sufoco.

a felicidade
era um mero lapso...

...de volta ao pó.

curto

meditando;
me em ti,
se tanto.

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Bateu uma saudade...

saudade é verbo intransitivo de dor
constante alívio
constantemente negado
frente o vazio
de sentir o que não está.
de ver o que se foi...
de tocar o vento.

respirar cada centímetro de ausência.
lembrar da falta que faz o que foi tudo.

saudade pula o muro e pega desprevinido.
saudade não conhece limite.
saudade não sabe ver as horas no relógio.
saudade é burra, e cega.
saudade... é só saudade.
saudade é a falta de tudo, em quase nada.

s a u d a d e s

saudo cada letra
pois atrás de cada uma
eu guardo aberto um sorriso,
e uma doce, e leve, esperança.

ai, esperança...
como me faz bem...
como me faz falta...

Escrever

...?
!
(...).

Noite em claro

quebrei a supra treva
que paria a noite em duas.
hoje a tenho una, em metades:
a beleza do escuro,
sutileza segura de segredos.
solidão bruta no claro
da alva pedra prata, lua.

tua pele nua
envolta em meu tormento.

desejo puro esse
que me parti cru:
rubro em febre,
frio qual defunto
- réu e vítima
do sentimento único.

vazio claro da noite
me arrebenta
na lua do teu olho

canto de quem ama
no escuro, na noite,

no sonho.

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Pousada

entre
a velocidade da metrópole
que grita nos meus olhos
e
a lentidão do campo
que me corrói as vísceras
ou
a solidão larga da estrada
que nem perde, nem basta

passivamente espero
uma placa na pedra fria
onde calado assim eu diga
"encontro aqui repouso, enfim.”

Silêncio

o maior poema é o silêncio
sem início, sem fim.
imaleável, inabalável, absoluto.

sem rima.
sem forma.
firme.

a reticência eterna
que brota antes do mundo
antes de tudo,
antes do sonho.

o silêncio é o rei de tudo.
jazigo que guarda vivas as palavras
e emudece as horas

Ícaro

como posso lhe contar desse vazio...
explicar essa lágrima?
desfazer esse nó na garganta?

tentei voar...

minhas memórias
minhas amarras

minhas asas de cera
em chamas
minhas dores

um vôo sem asas...

a estrela suicida
se atira na queda
pra sentir essa dor

um ponto
num universo frio.

o ponto de luz
pisca em soluços
brilha como lágrimas
onde acabam os sonhos
perdidos

Eclipse

luto absoluto
luta de quem ama de verdade
quase contra a vontade...

mudo, escuto o silêncio
tudo paz, mas peso em tudo...

padece podre o calor
na falta que cresce...

tudo quase, pelo meio...

ardem os olhos...
sem palavras me calo,
o peito grita de saudade!

Eu lírico

ele costuma fingir que é poeta,
ou revolucionário... lunático...
às vezes cisma em fingir que sumiu...
às vezes dá gritos pro vento.
outras vezes é puro calento
dos sonhos que choram
em curva alguma
onde nasce a reta e a brisa...

meu eu lírico gosta de voar,
gosta de pegar no sol,
gosta de brincar na chuva,
vive querendo se afogar,
e fazer pessoas de lama.

meu eu lírico finge que vive.
eu finjo que deixo.
ele finge que sou eu,
eu preso estou nele.

ele mente em mim
pra coisas que fingem
ser alguma coisa
precisa da mente
ou sopro no leito do peito
de emoções sonsas
e felizes
e bravias
e vazias...

não sei quem finge mais
nessa doce brincadeira de viagem:
se sou eu, como eu, ou em personagem.

não sei se morro
de tédio, de sono, de amor...

mas ele...esperto que ele só,
sei que vive pra sempre e sempre
na lágrima, no riso, no vazio...

no pó.

terça-feira, 1 de agosto de 2006

coisas nas coisas

as coisas
e a causa das coisas
se embolam: nós em nós.

deixa quietar o peito,
que o coração sangra
e acaba que vai tudo embora
no sangue da lágrima.

a cicatriz fica, sim.
mas menos vazia do que antes.
mais alegrezinha, até,
no fim.

Ao indigente andante

procuro teu rosto,
rota perdição de mentes e almas.

acaso não sabe
do tormento que transmite
sem face, em névoa,
na beira do abismo?

sem rosto e sem resto...
o que sobra?

sobra a falta que sinto
no falso dessa face.

minha? sua? nossas?

nuas as faces do mundo
corroídas e sussurrantes
atrás do muro.

Transe

Entre em transe

Entre o já e o ainda
Entre agora e hora e meia
Entra fora e vai embora
Hora clara noite inteira

Entre hoje e ontem
Amanhã fadado em momento meio
No certo que se fez do sonho
Tudo e todo é para sempre

Osso foi-se como ócio
Podre cinza feito fóssil
Cinza-sonho e nevoeiro
Quase tudo é quase inteiro .

Pedras no meu sapato

Pedras

percebo como é belo o arco
que brota íris na montanha
donde jorra sorrateira água morna
calma, plácida, no horizonte.

felizes as montanhas
que não sentem o vento.

felizes as rochas
ocas de sentido
e tormento.

segunda-feira, 31 de julho de 2006

Falsa fé

com as preces nas mãos
a pressa nos pés
vou atrás de comunhão
que me clama a fé.

ferro e osso,
ouro e fóssil.

falsa toda fé de plástico
que prolifera nesse mundo
quimera, tal besta assassina,
de sentir dos outros o nada,
o vazio, o falso senso.

intransigente desejo
de matar tudo que mexe
no meu queijo...

quero uma fé firme de vento
que veja as borboletas voando

e diga amém.

Pra começar

esse é o canto pras minhas verdades tortas
mortas meias que assim...
faltando pedaço que não acho em mim...

é simples desejo de dizer o silêncio
que as vezes me brota
em folhas de papel e sonhos...

sejam todos os loucos bem vindos aos meus devaneios cheios de nada.