segunda-feira, 20 de agosto de 2007

dos deveres

deve ser a hora essa
em que o choro pesa,
quando a alma pede clemência
e se perde do peito pio.

deve ser assim que se sente
quando se afoga e agoniza,
erra em tudo aquilo que se tente,
e tudo mais e pouco se esvazia.

deve ser assim no meio de tudo,
quando se perde a calma,
que o medo toma conta
e a esperança vai embora.

deve ser assim que sempre é
deve ser assim porque é preciso
deve ser assim o sentimento do mundo
conciso e confuso no vidro.

deve ser assim que na verdade
sempre me sinto, na vontade
de achar resposta alguma
pra tudo quanto dessentido.

deve ser assim... tormento.
deve ser assim, tortura
a espera da espera pura
que se espanta a todo momento.

para que tudo se consuma
e para que tudo mude
deve ser assim
e assim deve ser

eu sempre
um passo a mais
longe de mim.
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imagem: http://centelhasdeinfinito.blogs.sapo.pt/arquivo/pegadas%20na%20areia%202.jpg

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

íris decaída


meu olhar me despe:
pecador arrependido.
meu olhar se perde:
pensador perdido.

meu olhar permuta
toda dor em fantasia.
meu olhar pergunta:
ainda há alguma ferida?

meu olhar impera
sobre os corpos na rua.
meu olhar persegue
meus anseios terríveis.

e a alma cega grita
palavras invisíveis
que fogem inteiras
ao meu olhar – risível.

e o meu olhar, então,
escondido, irrevelado,
na medida dessa hora
imensa, se despede.
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*aos meus olhos covardes,
e prepotentes...
sonhadoramente fechados.

foto:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/images/1431_storm/5142525_storm12.jpg

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

cem poesias

sem senso
nem sono

sem medo
nem meios

sem fogo
nem mágua

sem sangue
nem pena

sem alma
nem pó

sem ponto
nem nó

sem som
nem dó

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*
os poetas
sempre
sem poemas

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

das verdades (ou da nudez)


minhas verdades andam pelas ruas
um tanto quanto arrependidas
vaidosas e vadias.
perdidas.

minhas verdades morrem de silêncio
um tanto quanto esquecidas
vaporosas e arredias.
inafiançáveis.

minhas verdades caem de vazias
um tanto quanto erradas
sonhadas e iludidas.
irrealizadas.

minhas verdades tortas...
minhas mentiras.
eu inteiro torto e perdido,
encontrado do avesso
nessas verdades nuas.