tudo flutua entre o que o peito pede
e o que diz a mente oculta.
revela a relva a rosa rouca
e a reza é ressalva, não ranso,
nem riso. é roupa rasgada,
é carne viva e revolta.
é rastro e ramo de todo resto
é posto e casto presto.
reembala o rosto e a resma
parece uma quase quaresma...
que comocadente restringe ao castro,
ao quarto sujo, o retorno, o prúrido incesto:
a relaxada ronda do temido gesto
na ferida, na alma, na terra rasgada.
retoma e retorna, que a roda revira
e resta ainda a ultima prece:o beijo
e o suspiro, sem suspense
sem resposta, sem senso.
resvala a rústica ressalva
ainda respiras sem alívio.a
inda reviras a pedra
a procura d'um rio.
canto pra falar do nada
pra dizer tudo
em coisa alguma.
pontos de luz na treva
ou pontos de treva na luz?
porto pras minhas palavras
singelamente plurais e (im)puras.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
que(r) dizer
Uma pergunta impertinente tem me assombrado nesses dias inglórios, como louros de uma conquista às avessas. E ela ressoa em cada página, submersa: “Quê dizer?... Quê dizer?... Quê dizer?”. E me vem de súbito aquela impressão que depois de tanto tempo, depois de tantas palavras, já tão somente falo sem dizer nada. E mesmo que de fato eu diga, o fato de não atestar naquilo uma considerável parcela de entendimento e luz própria, de não reconhecer claramente o que quero dizer, para mim, é provável que eu já não diga nada. E que apesar de tantos riscos, de tantos símbolos, de tantos desencontros, de tantos pensamentos e paredes, finalmente me perdi por inteiro. Se estou pessimista, indigno, reconheço: é porque me falta significado – essa substância do espírito, que de tão imensa já não se enxerga – e que nada em minhas lembranças, nos relógios ou na razão apresenta uma mísera migalha de segurança ou garantia.
Mas enfim... Será que isso importa?
Ou ainda: será que isso já não é por si só encontrar-me todo significado?
Mas enfim... Será que isso importa?
Ou ainda: será que isso já não é por si só encontrar-me todo significado?
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
água queima
era um lago vazio e profundo
- vazio, pois não era morada,
profundo, porque era mistério.
e cada gota d'água que ali
suavemente era plantada
sumia, virava lodo.
e cada corpo que lhe pungia
a tenra superfície, morria.
esgotava e secava o movimento.
e cada sonho, ele dissolvia.
e cada alma, ele consumia.
somente a dúvida ele alimentava.
e ele crescia e inchava,
até que sumia o próprio dia
até tapar o próprio Sol
até encostar na Lua.
o lago, algo como coisa viva,
a tudo destruiu, e de subto calou.
passou dia, passou-se eras.
e o lago, apesar de maligno,
estava calmo e imenso.
os homens, por desmedida,
lhe nomearam Oceano.
os homens, por ingênuos,
lhe chamaram Pacífico.
- vazio, pois não era morada,
profundo, porque era mistério.
e cada gota d'água que ali
suavemente era plantada
sumia, virava lodo.
e cada corpo que lhe pungia
a tenra superfície, morria.
esgotava e secava o movimento.
e cada sonho, ele dissolvia.
e cada alma, ele consumia.
somente a dúvida ele alimentava.
e ele crescia e inchava,
até que sumia o próprio dia
até tapar o próprio Sol
até encostar na Lua.
o lago, algo como coisa viva,
a tudo destruiu, e de subto calou.
passou dia, passou-se eras.
e o lago, apesar de maligno,
estava calmo e imenso.
os homens, por desmedida,
lhe nomearam Oceano.
os homens, por ingênuos,
lhe chamaram Pacífico.
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