segunda-feira, 29 de setembro de 2008

...o que será que é isso?

é o que acontece quando acontecem essas coisas inadiáveis, incompreensíveis?
algo que comove a alma, corrompe a mente, deixando as núvens vazias, as flores confusas de cor. Deixa tudo envolvido num mistério, num fogo sem luz, numa sombra branda, num vento de um afago. Uma carícia vazia, um beijo oco, num fluxo inédito, desconhecido, desses terrenos do espírito. E algo muda.
Seria paixão? Creio que, antes, medo.
Uma ânsia perante o abismo, onde todo caminho acaba...
Acaba? não.
A queda é um vetor, uma seta, um caminho igual e oposto a tudo que existe... a tudo que se conhece.
E perceber que essa queda é o caminho é o passo vital. Pois, é preciso lembrar, o tempo arrasta sempre em frente, sempre em frente, sempre em frente, como uma máquina prestes a nos esmagar em suas engrenagens sujas e enferrujadas. É uma marcha comandada sem condecendência, sem compaixão.
É preciso uma saída! Mas não há portas.
É preciso vontade! Mas não se encontra desejo.
É preciso esperança! Mas não há saída.
Tem-se a impressão de que certas questões não se resolvem, nem exixtem para isso. Elas estão vagandopor aí: uma interrogação semresposta... e por um momento, me lembro: Como isso é bom!!!
Aquela chibata que fere, sangra e aflora. Mas cicatriza, amadurece e se torna alegria. É uma felicidade assim, pura e ingênua.
A instância da existência, que comporta tão bem esse peso e esse gozo, essa escolha e essa perda... essa tentação e esse desejo.
Acho que isso é viver

domingo, 28 de setembro de 2008

secular


as horas têm uma mania curiosa de passarem vagarosas no domingo...
não há nada que se possa esperar nessas tardes monótonas.
nem salvação, nem paz. é tudo uma comunhão estranhamente familiar entre tédio e energia.
algo que preso no peito, perversamente converte a libido em pecado, inalienavelmente.
nem a solidão é pura, nem a comunhão liberdade. é uma flutuação entre a carne e o espírito. uma vontade louca de estrapolar a tênue linha da abstinência. o prazer que invade a santidade e se espalha vadiamente pelos pêlos, pela nuca, pelos seios... e desce.
o inferno está coberto de confissões e falso arrependimento - pois não há porque se arrepender.
pende a luxuria vagarosa no relógio, a preguiça inabalável, o desejo quase mórbido de ater-se para sempre num segundo antes da fatídica segunda-feira... descobrindo que há espaço no tempo secular do domingo.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

despropósito

se quiseres um fado, te dou.
um que tenha asas de tinta
e pernas de cobre e aço.
um que cante sem voz.

se quiseres um fado, te dou.
um com tinta de ácido
e sabor de morango.
um que é gozo e algoz.

se quiseres um fado, te dou.
um que vagueia manso
e termina tanto bruto.
um que desfaz a vida.

se quiseres um fado, te dou.
um que atormenta a hora
e suspende teu medo.
um fado chamado poesia.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

regras do jogo

I
pequei por mim.
algo que, como assim,
peguei pra mim.

II
en passant desdigo tudo.
não foi por mal
mas, às vezes, eu erro, sim.

III
en passant, desligo tudo,
mas, às vezes, não é assim,
todo eu que há em mim.

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à nós, Rafa.
e às (n/v)ossas Dissoluções Filosóficas

intuição n°1 [ imagens irremediáveis]

deve ser porque existem muitas palavras no espaço. pregadas com selo de vento, espalmado.
deve ser porque nunca se mede onde cuspir, nunca se pede o que cumprir. porque nunca se mexe. está ali.
deve ser porque de nenhum outro jeito seria, se não fosse exatamente como não é.
é o demônio no paraíso.
deve ser assim...

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inspirado em
Apenas Sinta.

*fui lá e me deu medo e sabor.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

proibições n°4 [devaneios metafísicos]

...a alma não é coisa que se limpe, pois tão pouco é coisa que se suje. nem algo que se use, ou desuse, nem se abotoa.
não gosta nem não gosta, não ama, nem não ama.
nem alma, nem desalma.
nem lama nem pó.
a alma é roupa queimada e sem sujeira, limpa, mas faceira.
pronta a nos enganar, tomar posse e nos abandonar.

alma é pior do que puta!

proibições n°3[do bem]

e o bem último não é igual felicidade. é algo assim, que não sei como é.
mas assado, e não assim.
se fosse assim, seria fato fácil na vida por um fim. sem que ninguém se canse, ninguém se acuse ou cause descontentamento...

a vida sem felicidade seria muito mais feliz.

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*felicidade como compromisso último é pura falta de criatividade.
e de liberdade.

proibições n°2 [eu]

pois que percebi que nunca disse, nunca fui, nunca amei, nunca sorri, nunca ideei, nunca explodi, nunca gritei, nunca bebi, nunca trouxe, nunca construí, nunca urinei, nunca ganhei, nunca fodi, nunca vinguei, nunca cansei, nunca cresci, nunca nasci, nunca chorei...

eu nunca nunca.

nunca.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

explicação para mudança abrupta de humor

estou estranho:
algo invade o meu peito...

acho que é a felicidade
fazendo ronda
no terreiro.

mias

pra ser sincero, existem punhados de coisas que me instigam. punhados panhados na terra e na núvem, e no outro, e no amor, e no tempo, e no mar, e no seio da namorada, e no adeus, e na chegada, e no sorriso da idade (da velhice e da infancia). na pergunta que não cala, e que não sabe que é pergunta.

segundas intenções e uma péssima poesia

sou o calor que lambe as pernas das meninas
a malevolência do olhar
o fraco do vencedor
a vingança da sensibilidade lúdica
a pura vadiança das vizinhas
o suor escondido dos meninos
a pululança dos gemidos escorraçados
os segredos dos pais e dos filhos

eu sou desejo.
minha casa é a varanda
a sala a cama o mato o suspiro
a senzala e a casa-grande
o cristão o judeu o árabe e o ateu
a África e o mundo desde a Etiópia
a China e América e todo canto
que esvaece de gozo a cada instante

*dados estimam no mundo constantemente, a cada instante instante, uma média de 60.000.000 (60 milhões de pessoas) estão transando... O que você está esperando?? contribua para as estimativas continuarem altas!!

carta n° 9 [atrás de um momento]

se você olhar bem, existe um riso por baixo de cada acaso: um riso que resiste à perseguição da normalidade, um riso que reside nos nossos desejos, e que insiste na fuga desenfreada da regra e da norma.
aprenda a sorrir com os seus acasos, caro amigo. eles muito nos revelam sacanas e humildes comediantes de sentimentos, poesias, romantismo, sonho e desejo.
porque o acaso, é como papai noel: só existe se acreditamos nele. e acreditando nele, acreditamos em nós mesmo, nus e crus, na esperança de algo que quebra a monotonia de nosso destino grandiosamente indigente.

proibições n°1 [felicidade pode?]

não, não pode!
nada além da verdade
pura e a priorística
de um ser definido
sem decisão.

há algo como o quê
de um destino incisivo
por baixo do poder
da vontade, fatalidade!

passivo a tudo,
à hora, ao inferno,
à lombriga na entranha,
na estranha condição
esta de estar vivo.