segunda-feira, 25 de maio de 2009

pichações mentais na avenida principal

adoro ser mais um rosto apagado na multidão! se os meus contornos desaparecem, e fico indistinguivel por onde ando, preso na mínima nulidade frente a cidade imensa, não é de todo ruim.
a cidade não consegue dominar meu corpo, e ando livre. a cidade não pode dominar meu espírito, e penso novo. nem meus sonhos, nem meus desejos. apenas os meus olhos ela domina com o cinza-mais-pesado-que-as-núvens. e me apareço mais leve, mais rarefeito, condensado aqui só por acidente, sem motivo.
estou só. e vou além.

domingo, 17 de maio de 2009

das des-identidades

estou ingênuo, numa fase lunar de cataclísmica voltagem, em que o som do silêncio desperta a malícia absoluta e o desejo é ouro a afastar-se. nisso estou puro e perdido, e podre e malquisto. estou régio e estou frio. estou nu. estou eu.
mas não se engane. não sou assim. sou mais pesado e mais rarefeito. sou brisa oceânica em montanhas de Minas, que não resseca a si e nem rega a relva, que flutua, existe e conspira. sou puro suspense, e por trás do meu riso, há intenções de genocídio, de tortura, de sangue e de morte. sou corrupto e sofrível de níveis de verdade. sou pouco. sou oculto.
sou o negro opaco no olho brando, e meu tesouro é moinho de vento escondido em um inaudível abre-te, sésamo. sou trancado fora de mim, contra e pela minha vontade. sou deus em dobro e pela metade. sou raso e rasgo a pele e não sangro. sou santo e diabo. sou eu, esse vaso humano.

filosofologia #4 [da ética existencialista]

esses dias vou deixando o tempo passar como se ele não tivesse dono. e como se ele não fosse dono de ninguém. eu de cá, ele de lá, com cumprimentos apenas, cortesias. está calmo o momento. ele não me arrasta nem me persegue. eu não o prendo nem o culpo. estamos quites. e parece que isso quase deve ser paz.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

filosofologia #3 [da negação existencialista absouluta da linguagem]

as palavras tem vontade própria. se deixamos, elas ainda nos tomam, nos abraçam, nos cegam, nos putrificam. sinto que as pessoas se deixam perder cada vez mais, abraçando em jargões, em clichês, frases feitas num holocaust(r)o ideológico, achando que encontrarão num dicionário tão alheio a expressão última de sua existência. re-(des-)falam de amar, de saber, de diferença e especialidade, de igualdade, de moral e bons costumes, e das maiores ameaças, resmungam autisticamente um código de ética enferrujado e tão corrupto quanto a peste. 
vai saber a língua é a mestra de todas as meretrizes vadias que rondam pelos olhos, a volúpia mais viciosa que sorrateira integra o desgosto de se dizer.
tem me entediado cada vez mais pessoas se definindo e ao mundo com palavras alienígenas à si mesmas, sem um segundo de esforço, sem vontade própria, sem vontade alguma.
ando receoso em relação às palavras, com todas essas pessoas acorrentadas nelas...
afinal, as palavras, aquelas que valhem a pena, as puras, nós em nós mesmos não as suportamos mais.

filosofologia #2 [do anti-humanismo solicissista transendental]

me parece que sempre somos uma parte de tudo que não queremos ser. e num mundo onde há cada vez mais outros, mais sussurros, mais espelhos desiguais, parece que à doença só cabe verdadeiramente o lugar puramente imaginário, naquele limiar maquiavelicamente derrocado por si mesmo: homem, o único ser que de tão imenso parece vazio.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

filosofologia #1 [literatura existencialista anti-humanista]

tenho nojo. nojo das cortinas, nojo da cama, dos vestidos. tenho nojo do colar de pérolas que eu um dia segurei. odeio os cálices dourados, os jardins simétricos pelos parques, a sala de jantar. detesto a brisa de maio e a ventania de outubro. tenho asco desses sorrisos tão fáceis, das prosas ensaiadas, desses gestos, dessas palavras tão soberbas e tão vazias. meu sangue se infla de ira sempre que coisas belas se tornam um ostento, sempre que as coisas leves se condensam no hábito, sempre que coisas sábias, de tão proliferadas, se tornam doenças obscenas.


*AAAAAAAAAAAHH!!
ODEIO O MUNDO MODERNO!
PAREÇO UM HIPOCONDRÍACO IDEOLÓGICO!

dos ciclos

meu filho nasceu!
espanto!olhei 
no seu olho:
será que era eu?