quinta-feira, 29 de outubro de 2009

pequenas sinfonias

esses sons desiguais se enlaçam
como lâminas finas, fluidos corrosivos
e desembocam intranquilos
da minha língua inquilina
de verbos sublimados

morada

deixei-me acreditar
que era nulo, vago e morto
julguei-me errado,
julguei-me roto.

mas minhas pernas erguidas
minhas penas sofridas
arrancaram-me, elevaram-me
com mais força que pedra firme.

sou mais sólido que o vento
e quando eu tento
posso até ser mais que penso
mesmo que um pouco tenso.

de agora em diante, não mais remorso
sei que agora tudo posso,
que tudo traço e destroço:
eis meu sorriso no rosto.

resguardarei minhas intenções
arquitetarei revoluções
e dos meus medos superados
erguerei fortaleza e treva armados.

serei negro e branco e transparente
nunca d'antes tão presente
nunca antes tão como eu
jurei e juro ser meu

inteiro no erro desnecessário
completo no gozo herege
e na nudez pura que me rege - até a hora da morte,
achar em mim o abrigo provisório.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

carta imprevista e desconsiderável para o todo

ih, liga não. só não tenho muito o que dizer pra alguém que eu nem conheço, fica um clima estranho. nada contra amizades virtuais, mas eu me cansei delas quando o meu mundo ganhou um sabor de brisa na companhia palpável das pessoas no mundo lá fora. aqui, depois disso, sempre me parece algo meio aborrecido. mas vc parece ter tanto a intenção de se dar, no bom sentido, que eu até fico curioso com a sua pessoinha. quem é vc? (ps: ninguém é a descrição do perfil, pelo amor de deus, buda e matuzalém!) o que vc faz, onde vc gosta de estar e com quem, o que vc gosta de viver? um abraço requintado, desses de bunda afastada ainda. PS: não to te dizendo -cresça!- ou coisa assim, mas tome cuidado, se seu envolvimento com a gente daqui. nada há de errado com as pessoas fantasiarem, criarem, se esconderem. mas se envolver com as sombras ou as máscaras declaradas pode ser algo atordoante, dolorido... é chato imaginar as pilhas de pessoas que se escondem sob essa coisa do (eu sou diferente, único, eu causo, etc)
as pessoas se esquecem que são muito mais comuns do que pensam, ou, se percebem isso, não entendem que não é algo ruim ser comum. hj em dia existe um desespero tão imenso dessa nossa galera indigente em ser alguém, que me pergunto o que realmente elas querem dizer... ou pior, o que elas querem ser.
tome cuidado com isso também. se somos o que pensamos que somos, temos que prestar mais atenção em quem nos diz como nos pensar.

grandes votos! abraços.

espero conhecer ou conversar com você um dia.
até lá, força, luz e felicidade para você e para os seus.

ass: m.o.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

ânima

eu quero a sorte de poder me esquecer
de tudo que eu poderia ter sido

viver só esse horizonte belo e tecido
com veias de montanha, céu e mar

deixar morrer essa fantasia minha
que eu não mais controlo, desolado

ressucitar em mim a vontade pequenina
de um velho garoto inacabado

sentenças ou juízos ou da morte dos meus últimos sonhos

a porta se fecha. ruidosamente primeiro, gemendo, depois bate (CLANG!).
uma mão firme e imaginária dá voltas à chave, escondendo os dois ali dentro como um segredo a ser esquecido.
- E agora?
-...
-...
- ABRE ESSA PORTA!!!
-...
- ABRE ESSA MERDA!!!
as batidas ecoam, flutuam no aposento mal acabado, vasto, imenso, infinito... e minguam, murcham, morrem.
silêncio. tempo.
- E agora?
- Agora é esperar...
... tempo grande e sem misericórdia.
- Não consigo! - diz baixinho, aflita, e chora só lágrimas, sem soluços.
- Shhh, calma! - pegando ela pelos ombros, abraçando contra os dele.
- Os outros! e os outros?!
- Não sei... sumiram como os gatos da tia Adélia, ou as chaves do apartamento. Talvez nunca sejam encontrados.
- Será que eles...?
- Não, não!
...
- Você me ama?
- Não. Não mais... não te amo há 7 anos.
- Sexo?
- ... pois se a carne é fraca...
...
- Queria um cigarro.
- Queria comunhão.
- Foi bom?
- Sim. E você?
- Sim... sabe, sempre te amei mais.
- Hunf.
- Sério!
- Poupe-me.
...
- A gente vai morrer, né?
- Vamos.
- Fomos felizes?
- Fomos o que?
- Felizes! Fomos?
- Será que fomos...?
...
- Será que vai doer?
- Um pouco, acho.
...
- Não era pra terminar assim.
- Não, não era...
...
ZAPT! jorra sangue multi-colorido, que entumece, enegrece, apodrece e evapora.

e o que mais me apavora: em mim nem doeu.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

da chave encontrada

algo ocorreu que vagueia no corpo da mente
um gozo de lágrimas
súbito e sulfuroso

intenso copioso
quase melodramático
se não fosse o mais real

como num abre-te sesamo
encontrei meus rios salgados
pela boca de um sábio ocasional
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após meses de candura e cara branda, um raio de esperança:
chorei como criança no quarto empoeirado
como adulto em quarta de cinzas
chorei uma liberdade mínima e imensa
suspendendo uma sina