sexta-feira, 29 de junho de 2007

suspensão

minha voz não está gravada
meu rosto não aparece em fotos
meu cheiro sumiu no instante
minha pele apodreceu negra
a alma perece aos poucos

e canta enquanto se desfaz
em doses homeopáticas
milimétricas e sem rima

não existe som no vazio
não existe luz dentro da carne
no cerne do universo
tudo cintila somente
lamuriosamente
como prestes a acabar.

não existe pergunta que não se cale
perante o segundo que se encerra
atrás das véias saltadas dos prédios
das pontes, dos telhados, das contruções.

a orquestra suspensa dos sonhos
sempre fingindo que tudo sabem
espertos que são.

mas no salto tudo voa, desprende,
esvaece

não resta ao menos o ponto
até que o poema toque o chão
.

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