terça-feira, 15 de setembro de 2009

fotografia - ou a escrita do tempo

o sol congelado de pronto, promete
todas as cicatrizes na face muda
mudada da infância nua e bravia
- agora resíduo, espera rouca.

visita-me como em douto presságio
das minhas profecias preferidas
enraigadas nas veias, na tela, na moldura dos ossos
- uma manhã tão distante da janela.

costura de costume e graça
numa névoa densa ao toque da memória,
pequena tapeçaria empalhada de minha glória
perdida - nos entrepassos do tempo vadio.

o sol enlaça luz e traças na carne
radiografada na fotografia surrada,
roubada de minha alma tão alheia,
roupagem de um sonho vivido.
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o sol na foto, e lá fora na grama, no céu eterno e branco
o mesmo sol da antes-Terra, do chimpanzé e dos dinossauros,
dos neandertais, dos sapientíssimos ocidentais e dos orientais pacientíssimos,
de newtons, einsteins, balzacs, mozarts, openheimers, hitlers, dalis,
akiras, mao tses, confúcios,
orixás, iatolás, xexênos, nigerianos, esquimós,
bailarinos, palhaços, bandidos, extremistas religiosos,
ditadores, índios, nômades, ciganos, defuntos, crianças, não nascidos...


sol em foto é o retrato da ironia.

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