terça-feira, 9 de setembro de 2008

proibições n°4 [devaneios metafísicos]

...a alma não é coisa que se limpe, pois tão pouco é coisa que se suje. nem algo que se use, ou desuse, nem se abotoa.
não gosta nem não gosta, não ama, nem não ama.
nem alma, nem desalma.
nem lama nem pó.
a alma é roupa queimada e sem sujeira, limpa, mas faceira.
pronta a nos enganar, tomar posse e nos abandonar.

alma é pior do que puta!

proibições n°3[do bem]

e o bem último não é igual felicidade. é algo assim, que não sei como é.
mas assado, e não assim.
se fosse assim, seria fato fácil na vida por um fim. sem que ninguém se canse, ninguém se acuse ou cause descontentamento...

a vida sem felicidade seria muito mais feliz.

----
*felicidade como compromisso último é pura falta de criatividade.
e de liberdade.

proibições n°2 [eu]

pois que percebi que nunca disse, nunca fui, nunca amei, nunca sorri, nunca ideei, nunca explodi, nunca gritei, nunca bebi, nunca trouxe, nunca construí, nunca urinei, nunca ganhei, nunca fodi, nunca vinguei, nunca cansei, nunca cresci, nunca nasci, nunca chorei...

eu nunca nunca.

nunca.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

explicação para mudança abrupta de humor

estou estranho:
algo invade o meu peito...

acho que é a felicidade
fazendo ronda
no terreiro.

mias

pra ser sincero, existem punhados de coisas que me instigam. punhados panhados na terra e na núvem, e no outro, e no amor, e no tempo, e no mar, e no seio da namorada, e no adeus, e na chegada, e no sorriso da idade (da velhice e da infancia). na pergunta que não cala, e que não sabe que é pergunta.

segundas intenções e uma péssima poesia

sou o calor que lambe as pernas das meninas
a malevolência do olhar
o fraco do vencedor
a vingança da sensibilidade lúdica
a pura vadiança das vizinhas
o suor escondido dos meninos
a pululança dos gemidos escorraçados
os segredos dos pais e dos filhos

eu sou desejo.
minha casa é a varanda
a sala a cama o mato o suspiro
a senzala e a casa-grande
o cristão o judeu o árabe e o ateu
a África e o mundo desde a Etiópia
a China e América e todo canto
que esvaece de gozo a cada instante

*dados estimam no mundo constantemente, a cada instante instante, uma média de 60.000.000 (60 milhões de pessoas) estão transando... O que você está esperando?? contribua para as estimativas continuarem altas!!

carta n° 9 [atrás de um momento]

se você olhar bem, existe um riso por baixo de cada acaso: um riso que resiste à perseguição da normalidade, um riso que reside nos nossos desejos, e que insiste na fuga desenfreada da regra e da norma.
aprenda a sorrir com os seus acasos, caro amigo. eles muito nos revelam sacanas e humildes comediantes de sentimentos, poesias, romantismo, sonho e desejo.
porque o acaso, é como papai noel: só existe se acreditamos nele. e acreditando nele, acreditamos em nós mesmo, nus e crus, na esperança de algo que quebra a monotonia de nosso destino grandiosamente indigente.

proibições n°1 [felicidade pode?]

não, não pode!
nada além da verdade
pura e a priorística
de um ser definido
sem decisão.

há algo como o quê
de um destino incisivo
por baixo do poder
da vontade, fatalidade!

passivo a tudo,
à hora, ao inferno,
à lombriga na entranha,
na estranha condição
esta de estar vivo.

domingo, 31 de agosto de 2008

despejo

a poesia está morta
não ressurge, nem salva
está só e desgastada
no relento da relva.

foi
encoberta e sangrada
pelos degraus da escada do progresso.

regresso
e minha casa já não é
casa
não é linha
nem verso.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

espectacula

se quiser ver
minha alma, vê
agora! - e somente agora
ela está sincera.

e franca e fraca.
e na fraqueza, está bela.
então, olha!

como ela se despedaça
suavemente em olor de laranjeira
nessa brisa breve, em cor carmim.

vê que ela sublima, não anda.
evapora, não mais espera
se esvai pelos meus olhos,
a mim podre me abandona.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

carta n°8 [mocinho e bandido]

- meus heróis não são feitos de carne. há neles um tanto de sonho e destreza. e muito mais que força, há vontade. e além de tudo, existe uma tendência homicida, que reside branda, como que adormecida, em cada um deles.
gloreamos a seu desejo de sangue, de brutalidade, da sua monstruosidade redentora, que nos permite ir mais além do que nós mesmos, retrocedendo-nos, ao desejável nível de animais, e ao desejado posto de predadores indomáveis.
pobres e miseráveis mortais que somos, botamos um sonho pra lutar, violentar, massacrar, e engolimos toda a repugnância de nossa vida regrada, tediosa, previsível, mesquinha, humana.
só eles, os heróis, podem levar a glória de um assassinato, de uma vingança, de uma justiça, de um amor, de um sexo. afinal, eles é que batem, correm, vigiam, perdoam, esmigalham e fodem como ninguém. (e já aparecem com mocinha diferente no episódio seguinte... despedidas sem grande serimônia, nem flores, nem desculpas).
nossos hérois criminosos, hediondos e ridículamente exagerados. que não habitam o cume da imaginação humana, mas apenas o monte sagrado de seu desespero, guardado a sete torpes chaves de moral.
- nossa! porque tão aflito?
- sei lá... acho nunca vi ninguém chorando no funeral do bandido.
----
porque o meu herói tá lá é pra meter porrada mesmo!!! hahahaha

fatabilidades

se não choras é por ser triste
se não ris é por bobagem
se estas firme, há de cair
se estas morto, és passagem

se te alegras é por engano
se te sobra, é a fotaleza
se te falta, é mais leveza
se enalteces, és abandono

se há ruptura, és covarde
se meio dia, és alarde
se plenilúnio, és quimera
se partistes, assim quisera.

pergunta

quanto vale um canto?
será que mais que o papel
ou o que sonho?

valores

valeria
valer
Valéria?

a visão à beira do infinito

meus olhos, enfim, estão secos.
como o concreto firme
sob os rígidos andaimes.

já não há rios nesses olhos
nem poeira, nem estrada,
nem salvação, nem caos.

e parecem ver estáticos
estrelas pontiagudas
que nunca sessam de brilhar.

nunca, nunca, nunca...

os meus olhos eternos
já estão cansados
de ver o mundo acabar.
___

imagem: http://img5.travelblog.org/Photos/47789/224722/t/1741246-The-Eyes-Won-t-Leave-Me-1.jpg

sexta-feira, 11 de julho de 2008

rit(m)os?

Meu Deus! a vida corre
e tenho pés calejados.
e os ouvidos calados
e a boca alejada e dura.

e está perdido e achado!
tudo que eu quiz
a não ser aquilo
que me diz minha falta.

que há nesse calor
que não sinto
e que já se foi na pressa
e na presa do tempo?

desgaste-cronologia

nesse breve suspiro
não há espaço
para floreios.

tudo é muito grande
mas não inteiro
entre dois rios.

há um rio que sobe
o outro que desce:
passado e fluente,

num espaço pequeno
que encerra
dois momentos.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

das baladas de amor entreabertas

bem que se quis depois de tudo ainda ser feliz.
mas não há o que fazer, além do que a vida diz
e tudo que resta é morrer no mar - de horror
quando se esquece o que vem da verdade, amor.

vem pra perto vem, vem de pressa vem sem fim
porque o meu fim já passou. não me resta tempo
ou vontade, e tudo além é potestade - e marfim
frio que alcança o pudor e a morte no escoupo.

me beija e me faz esquecer - dos meus medos
de tudo que errei, e da tanta falta que me fiz,
e de tudo que deixei escapar pos entre os dedos
pra que se queira, se possa, levar e ser feliz.

----
sinto que falta dizer alguma coisa, mas não tenho tempo no tempo que tenho

segunda-feira, 7 de julho de 2008

desmatérias

algo como um grama de beleza
está perdido do teu rosto. caiu
e - benção! - veio dar no meu olho
como um cisco de um sonho.

que parte mais de ti carrego eu
que comigo embolo a balada?
e na novela inenarrada, quê
de tudo mais que anda nessa terra?

saiba que contigo levas, despecebida,
grande parte de minha alma,
e mesmo dessa lama que escorre
dos meus dedos, filho do barro que sou.
--

do dia que me apaixonei pela Vênus de Milo.

sábado, 5 de julho de 2008

logo que tudo fizer sentido, retomarei as rédeas da galáxia, que se agita brava, selvagem, despedaçando todas as palavras.
no momento, estou perplexo, no instante entre dois momentos, à espera de que algo aconteça derrepente e perpetue em minha mente todas as experiências pueris de inocência.
no momento, todos parados e eu no foco de luz sob a lareira baixa, a cantar minhas mais claras cartas de desejo podre e farto.
existindo à espreita.
insistindo na escrita.