sábado, 20 de outubro de 2007

acolhida

não se avexe, moço,
desse meu verbo vagabundo
que eu espalho na noite, moribundo.
ele é cão amansado pelo tempo:
já não morde, já não ladra.
- letra, há penas.

entra, doutor, que a casa é rua.
toma todas as minhas filhas, essas putas
palavras perdidas das linhas certas
que se vendem pelo preço menor,
e abençoam pequenos pecadores.

toma, sinhá, meu sangue nessa travessa.
não repara não, que ele tá manchando
tua prata, tão cara.
mas sai logo, não fica.
carece só um muncado d'água.

repara não, esse fiapo que restou,
essa minha figura pouca e sequíssima
como a peste que alastra.

esses meus pés baços de vento
se movem só na poesia.
logo passam, não param nunca
nos olhos de pessoa nenhuma.

viu que eu já me fui?
sou passado dos seus olhos.
uma lágrima? um escárnio?
um sorriso, talves?

sou nenhum, nem outro:
sou uma breve miragem.
nunca lugar - nem mesmo um.
sou todo passagem.

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