terça-feira, 16 de janeiro de 2007

ser poeta

e daí que tudo me dói em dobro
e todo gozo dobra
perante o peso da alvorada.

daí que todo sol lacera mais a pele
e todo o sal
resseca a alma.

daí que não se tem mais nada
que não seja o papel
de seguir poeira afora
nas veias dos versos.

daí que a noite frígida
agita a calma
e posto em branco o ponto
tudo pode o negro
logro pouco da pena cansada.

e daí que resfestela
o meu ventre
ao ver a morte de frente
e a vida de costas.

daí que tudo mais
que não seja mais que dor
não me basta
não me consome como quero.

daí que sempre é nunca
nuca fria de perder o riso
e cada vez mais
se olhar no espelho
arranca do olho um cisco.

e eis ainda, que, daí
tudo posso
pois tudo fasso
com uma única falha
- a pena na mão.

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