canto pra falar do nada
pra dizer tudo
em coisa alguma.
pontos de luz na treva
ou pontos de treva na luz?
porto pras minhas palavras
singelamente plurais e (im)puras.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
após incontáveis funerais
segunda-feira, 28 de junho de 2010
passada a poesia - ou depois do devaneio dessa vida
domingo, 16 de maio de 2010
indefinívivel
sexta-feira, 16 de abril de 2010
quarta-feira, 7 de abril de 2010
saudade
foi uma coisa que veio batendo na minha janela dia desses. uma janela que só me deixa olhar admirado, sem me deixar passar, para a mais nostálgica paisagem: a praia de camburi.
pedaços macios de infância foram enterrados na areia com o cuidado de quem esconde um tesouro, e, anos depois, resgata as poucas moedas que restaram pelo chão (onde não mais existem conchinhas ou siris).
mas memória não se troca, nem se pode escolher por esquecê-la. memória é esse óleo que sai de mim para a minha pele: aparente, visceral, persistente, às vezes até irritante.
memória que não me deixa ser quem eu não sou. que me prende ao destino de ser eu, com correntes que se estendem ao passado. memória que me fere e fortalece, com lágrimas risonhas, fotos desbotadas, vozes distorcidas, mas rostos firmes, rigorosamente pintados e impressos no meu próprio rosto, na minha alma.
rostos que, partes de mim, jamais esquecerei.
terça-feira, 6 de abril de 2010
inexorável
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
pequena - ou amor
que a pena dança
pequena essa chama
que queima consome cansa
gama essa pele na minha
que a dança à mingua dana
até virar, pequena, ciranda
que até meu olho fascina
cala essa boca na minha, pequena,
que espera a cama
nem deixa a lingua sozinha
na nota conforme canta
como essa chama acalma, pequena,
a alma pequena e mansa
deixa sua chama na minha
pra ver quem é que ama.
a pequena chama chama pequena.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
profecias de carne e poesia
de quando em quando surge uma manhã em meus olhos. por entre as sombras das flores que nas árvores do jardim suspiram primavera, o sol beija teu rosto com ouro fino. a brisa rasteja pelos leves lençóis de algodão, faz dançar de suave, numa embriagada e tardia balada, os teus cabelos negros. quem sabe quantos pássaros flutuam travessos no céu azul?
suspira despedindo de um sonho bom, ainda com os olhos fechados. há uma certa sinfonia discreta no teu despertar. por entre a janela semi-aberta, nem os vultos minúsculos do que ainda será labuta, descanso e prazer cotidianos conseguem adivinhar os teus seios, de onde brota um ritmo manso, de um coração que brinca de tocar tambor e bandolim, em plenas 8 da manhã, como criança da praça: regendo constelações e pedindo esmolas.
levanto, dou-lhe um beijo e abro a porta, como quem sai do sonho, como quem foge, como quem abandona.
que a colombina me espere até o próximo carnaval.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
salma
as pernas e as penas soberanas,
querendo olhos e escamas.
coração contravenção só
entre um paradigma e o outro.
nas entrelinhas do tempo - ou refeição de gigantes
tem passado como?
"como" tem passado?
comido? comida?
como indigesto, passo?
como pasto? asno?anos?
como como quem come passado?
tem passado? como?
como teu passado - à la Cronos.
ausências próximas
algumas o são, e mais:
suaves metais.
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para c. de cássia
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
galacta
fluxo de pensamentos inomináveis
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
pequenas sinfonias
como lâminas finas, fluidos corrosivos
e desembocam intranquilos
da minha língua inquilina
de verbos sublimados
morada
que era nulo, vago e morto
julguei-me errado,
julguei-me roto.
mas minhas pernas erguidas
minhas penas sofridas
arrancaram-me, elevaram-me
com mais força que pedra firme.
sou mais sólido que o vento
e quando eu tento
posso até ser mais que penso
mesmo que um pouco tenso.
de agora em diante, não mais remorso
sei que agora tudo posso,
que tudo traço e destroço:
eis meu sorriso no rosto.
resguardarei minhas intenções
arquitetarei revoluções
e dos meus medos superados
erguerei fortaleza e treva armados.
serei negro e branco e transparente
nunca d'antes tão presente
nunca antes tão como eu
jurei e juro ser meu
inteiro no erro desnecessário
completo no gozo herege
e na nudez pura que me rege - até a hora da morte,
achar em mim o abrigo provisório.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
carta imprevista e desconsiderável para o todo
tome cuidado com isso também. se somos o que pensamos que somos, temos que prestar mais atenção em quem nos diz como nos pensar.
grandes votos! abraços.
espero conhecer ou conversar com você um dia.
até lá, força, luz e felicidade para você e para os seus.
ass: m.o.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
ânima
de tudo que eu poderia ter sido
viver só esse horizonte belo e tecido
com veias de montanha, céu e mar
deixar morrer essa fantasia minha
que eu não mais controlo, desolado
ressucitar em mim a vontade pequenina
de um velho garoto inacabado
sentenças ou juízos ou da morte dos meus últimos sonhos
uma mão firme e imaginária dá voltas à chave, escondendo os dois ali dentro como um segredo a ser esquecido.
- E agora?
-...
-...
- ABRE ESSA PORTA!!!
-...
- ABRE ESSA MERDA!!!
as batidas ecoam, flutuam no aposento mal acabado, vasto, imenso, infinito... e minguam, murcham, morrem.
silêncio. tempo.
- E agora?
- Agora é esperar...
... tempo grande e sem misericórdia.
- Não consigo! - diz baixinho, aflita, e chora só lágrimas, sem soluços.
- Shhh, calma! - pegando ela pelos ombros, abraçando contra os dele.
- Os outros! e os outros?!
- Não sei... sumiram como os gatos da tia Adélia, ou as chaves do apartamento. Talvez nunca sejam encontrados.
- Será que eles...?
- Não, não!
...
- Você me ama?
- Não. Não mais... não te amo há 7 anos.
- Sexo?
- ... pois se a carne é fraca...
...
- Queria um cigarro.
- Queria comunhão.
- Foi bom?
- Sim. E você?
- Sim... sabe, sempre te amei mais.
- Hunf.
- Sério!
- Poupe-me.
...
- A gente vai morrer, né?
- Vamos.
- Fomos felizes?
- Fomos o que?
- Felizes! Fomos?
- Será que fomos...?
...
- Será que vai doer?
- Um pouco, acho.
...
- Não era pra terminar assim.
- Não, não era...
...
ZAPT! jorra sangue multi-colorido, que entumece, enegrece, apodrece e evapora.
e o que mais me apavora: em mim nem doeu.