houve um tempo
em que o tempo me ouvia.
hoje, nada escuta.
grita
nos meus ossos.
e eles,
mudos,
obedecem.
----
a vida é uma orquestra
sincronicamente armada
até os dentes
de agulhas.
essas agulhas se chamam
segundos.
canto pra falar do nada
pra dizer tudo
em coisa alguma.
pontos de luz na treva
ou pontos de treva na luz?
porto pras minhas palavras
singelamente plurais e (im)puras.
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
furtividade
a testa pulsando na mão
a testa pulsando na palma
a testa pulsando na alma
a alma pulsando sem calma
a terra ruminando a lama
a lama suja da mão
nem a cama eterna
aponta a solução
----
OBS:
quisera eu ser criador autêntico de tamanho paradigma...
na verdade o primeiro verso, creio, roubei de Cecília (Meireles)
espero que me perdoe teu espírito sublimado
maculada que foi sua arte.
a testa pulsando na palma
a testa pulsando na alma
a alma pulsando sem calma
a terra ruminando a lama
a lama suja da mão
nem a cama eterna
aponta a solução
----
OBS:
quisera eu ser criador autêntico de tamanho paradigma...
na verdade o primeiro verso, creio, roubei de Cecília (Meireles)
espero que me perdoe teu espírito sublimado
maculada que foi sua arte.
ser poeta
e daí que tudo me dói em dobro
e todo gozo dobra
perante o peso da alvorada.
daí que todo sol lacera mais a pele
e todo o sal
resseca a alma.
daí que não se tem mais nada
que não seja o papel
de seguir poeira afora
nas veias dos versos.
daí que a noite frígida
agita a calma
e posto em branco o ponto
tudo pode o negro
logro pouco da pena cansada.
e daí que resfestela
o meu ventre
ao ver a morte de frente
e a vida de costas.
daí que tudo mais
que não seja mais que dor
não me basta
não me consome como quero.
daí que sempre é nunca
nuca fria de perder o riso
e cada vez mais
se olhar no espelho
arranca do olho um cisco.
e eis ainda, que, daí
tudo posso
pois tudo fasso
com uma única falha
- a pena na mão.
e todo gozo dobra
perante o peso da alvorada.
daí que todo sol lacera mais a pele
e todo o sal
resseca a alma.
daí que não se tem mais nada
que não seja o papel
de seguir poeira afora
nas veias dos versos.
daí que a noite frígida
agita a calma
e posto em branco o ponto
tudo pode o negro
logro pouco da pena cansada.
e daí que resfestela
o meu ventre
ao ver a morte de frente
e a vida de costas.
daí que tudo mais
que não seja mais que dor
não me basta
não me consome como quero.
daí que sempre é nunca
nuca fria de perder o riso
e cada vez mais
se olhar no espelho
arranca do olho um cisco.
e eis ainda, que, daí
tudo posso
pois tudo fasso
com uma única falha
- a pena na mão.
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
onírico
quando se sonha tudo é possível.
todo sonho é passível de existência
(e de toda dúvida)...
que o caminho faça-se sereno
em meio a tempestade.
todo sonho é passível de existência
(e de toda dúvida)...
que o caminho faça-se sereno
em meio a tempestade.
domingo, 14 de janeiro de 2007
sorte do dia
além da desgraça matutina,
o raiar desse dia,
existe o refúgio supremo
de sublime alegria:
a tumba esquecida
do cárcere acolchoado,
o travesseiro eterno
que resvala o sono
em baixo da terra.
os astros louvam de verdade
somente os moribundos.
o raiar desse dia,
existe o refúgio supremo
de sublime alegria:
a tumba esquecida
do cárcere acolchoado,
o travesseiro eterno
que resvala o sono
em baixo da terra.
os astros louvam de verdade
somente os moribundos.
terça-feira, 9 de janeiro de 2007
covardia
não me convence o teu horror
nem tua cara de malícia.
sei que no fundo, maldito,
tremes à vergonha de viver.
não me chora o teu olho
nem bendiz tua língua
a bem da verdade.
tua alma nua é que assoma
vermelha o teu sangue.
a sucumbir tua vida
prefere qualquer máscara
todo passa-tempo.
sei que maldizes a hora
de se olhar no espelho.
tem medo de encontrar nele
o demônio
ou o vulto desfalecido
dos seus desejos.
maldito covarde
que não logra partir
nem ficar.
prefere morrer,
trucidar,
matar.
tudo para não ver
a falha em que sucumbe
tua alma.
-----
maior covardia é rejeitar a si mesmo. esconder-se, mutilar-se...
seria eu o maior covarde?
nem tua cara de malícia.
sei que no fundo, maldito,
tremes à vergonha de viver.
não me chora o teu olho
nem bendiz tua língua
a bem da verdade.
tua alma nua é que assoma
vermelha o teu sangue.
a sucumbir tua vida
prefere qualquer máscara
todo passa-tempo.
sei que maldizes a hora
de se olhar no espelho.
tem medo de encontrar nele
o demônio
ou o vulto desfalecido
dos seus desejos.
maldito covarde
que não logra partir
nem ficar.
prefere morrer,
trucidar,
matar.
tudo para não ver
a falha em que sucumbe
tua alma.
-----
maior covardia é rejeitar a si mesmo. esconder-se, mutilar-se...
seria eu o maior covarde?
segunda-feira, 1 de janeiro de 2007
passa tempo
o hoje nasceu badalando
- louco dizia ser de paz.
mas com uma batida
virou o mundo.
os homens de ponta-cabeças,
mulheres de saia pra cima,
as rosas desgerminavam
uma dança que nunca termina...
e tudo dizia o sino
do alto da igreja
- a senhoria morta ao batizado,
o elipse, eclipse, apocalípse...
lapso!
o poeta, sim, amanheceu
louco
pra dizer tudo que queria,
pra cantar tudo que ouvia,
pra calar a tudo no ponto,
pra morrer assim,
feito chuva que estia.
-----
*
mas as curvas que traçou
essa ficarão
na terra entrevada
pra enlouquecer
ainda e mais
os meninos da lua
- louco dizia ser de paz.
mas com uma batida
virou o mundo.
os homens de ponta-cabeças,
mulheres de saia pra cima,
as rosas desgerminavam
uma dança que nunca termina...
e tudo dizia o sino
do alto da igreja
- a senhoria morta ao batizado,
o elipse, eclipse, apocalípse...
lapso!
o poeta, sim, amanheceu
louco
pra dizer tudo que queria,
pra cantar tudo que ouvia,
pra calar a tudo no ponto,
pra morrer assim,
feito chuva que estia.
-----
*
mas as curvas que traçou
essa ficarão
na terra entrevada
pra enlouquecer
ainda e mais
os meninos da lua
terça-feira, 26 de dezembro de 2006
abalo
no vazio uma balada
badala o sino
o sino cambaleia
distorce o sino
na noite e na agonia
refaz a sina
badalar inteiro na vida
a vida inteira
badala o sino
o sino cambaleia
distorce o sino
na noite e na agonia
refaz a sina
badalar inteiro na vida
a vida inteira
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
ainda melhor
melhor do que cansar é descansar
melhor do que viver é sonhar
melhor do que morrer, dormir
melhor do que dizer, sorrir
melhor do que calar, gritar
melhor que escrever, cantar
melhor do que ficar, partir
melhor do que olhar, andar
melhor que esquecer, amar
melhor do que matar, trair
melhor é não viver, não amar,
não partir, nem ficar, nem dizer,
não sair, não trair,
ou matar nem morrer.
melhor do que o mundo,
e nada mais que o mundo,
é cair no fundo dum poço
chamado poesia
e lá morar até o fim
dos mundos e dos verbos.
melhor do que viver é sonhar
melhor do que morrer, dormir
melhor do que dizer, sorrir
melhor do que calar, gritar
melhor que escrever, cantar
melhor do que ficar, partir
melhor do que olhar, andar
melhor que esquecer, amar
melhor do que matar, trair
melhor é não viver, não amar,
não partir, nem ficar, nem dizer,
não sair, não trair,
ou matar nem morrer.
melhor do que o mundo,
e nada mais que o mundo,
é cair no fundo dum poço
chamado poesia
e lá morar até o fim
dos mundos e dos verbos.
terça-feira, 28 de novembro de 2006
aniversariando

olha cá, bem dentro da minha alma.
responde pra mim: viu?
responde o porquê de tudo
o pra quê, o onde, o como...
me diz tudo quanto pode
só de analisar esse lamento,
essa alegria,
esse momento.
me diz tudo que pode
me diz tudo, se pode
que, podre, eu te escuto
tudo.
desvenda-me
ou me devoro.
desvela minha alma,
que na lama eu gozo
enquanto espero
à minha dúvida
o teu retorno.
------
fazer anos é muito esquisito:
achava que ia ser tudo diferente...
mas o sol raiou,
a núvem passou,
a rosa brotou,
pensamento pensou,
olho olhou,
boca falou,
o vento voou,
o jovem morreu,
o velho expirou,
o bonde passou...
a noite nasceu,
a estrela brilhou,
o sonho sonhou...
é tudo na mesma.
o que mudou?
mudou...
mas é o mesmo de ontem.
domingo, 26 de novembro de 2006
limites

já não há espaço
nesse corpo.
já não me cabe
esse cárcere,
maldição bendita
(a carne podre).
a palma grita
pois a alma lhe rasga
em não-caber.
e, se há doce sabor
no espírito
(posto que a língua
lacerada e trêmula
não mais diz
ou delicia nada)
este é do simples
instante que existe
e insiste apesar de tudo.
apesar do nojo
da ânsia
do vômito
e da vertigem de viver.
(fuligem-fulana
que corrosiva traça
destinos
no quadro negro
do céu noturno)
nem a estrela (de)cadente
me realiza algum desejo.
sábado, 25 de novembro de 2006
re-sentimentos
...
mais sinceras são as lágrimas
(aquelas bem peroladas)
do que as palavras dos homens.
lágrima é água (gota-oceano)
e nada mais;
sem segundas intenções.
já o coração que chora...
esse dissimula sentimentos,
não merece consentimentos
ou comiserações:
merece sofrer
pra sangrar lágrimas
até cairem no papel.
-------
*quanto ao título,
é engraçado,
e pertubador,
como as coisas se repetem
(totalmente diferentes)
do que nas semanas passadas
semeadas na terra fértil
da má-aventurança
bendita de viver.
mais sinceras são as lágrimas
(aquelas bem peroladas)
do que as palavras dos homens.
lágrima é água (gota-oceano)
e nada mais;
sem segundas intenções.
já o coração que chora...
esse dissimula sentimentos,
não merece consentimentos
ou comiserações:
merece sofrer
pra sangrar lágrimas
até cairem no papel.
-------
*quanto ao título,
é engraçado,
e pertubador,
como as coisas se repetem
(totalmente diferentes)
do que nas semanas passadas
semeadas na terra fértil
da má-aventurança
bendita de viver.
quinta-feira, 23 de novembro de 2006
cotidiano

aurora vermelhada
sangra toda elegia
plena madrugada
meio dia em meia hora
no meu quintal
raios caem como flechas
vespertina flor floresce
com suas raízes já na noite
pressentindo o seu destino
noite branca e cara pálida
palacete dos sonhos caídos
nem a flor vermelha da alvorada
me compadece com algum sentido
tudo tido tudo feito
chega logo a meia noite
e tudo refaz
e tudo finda
infinita noite
nunca morre a meia noite
nunca brota a madrugada
nunca troca coisa por outra
infelizmente
melindroso
quarta-feira, 15 de novembro de 2006
vagações

hoje, cercado de erros
procurei atividade:
fui enterrar o tédio
nas pradarias.
vaguei as serras
e montanhas frias.
bebi dos vales
toda calmaria.
e nesses rios tortuosos
naveguei calamidades.
na noite escureci
meu medo da verdade.
nas cavernas descobri
galerias sombrias
dos desejos mortos.
mutilados e esquecidos.
as pontes ligavam
mais que as terras:
costuravam dores.
infecciosas e rotas.
e a calmaria sumiu?
a calmaria dormiu.
vegeta enquanto,
sozinho,
violo cemitérios.
nos parques esperam
lembranças a serem
despertadas dos bancos.
solfejam de agonia,
semi-mortas.
as cidades escutaram
indiferentes,
esses meus passos.
os vilarejos derretiam
na beira da estrada.
a estrela inconsciente
ressonava em pingente,
como corda no pescoço lunar.
amanhecia já o novo dia
e a aurora sem trova
desfez a razão
da viagem e do peregrino.
roubaram as pradarias.
não existe paragem.
só ilusão.
um oásis mágico,
além de toda suspeita,
e de todo jazigo.
...acabei por enterrar
meus sonhos, e meus restos,
no fundo do quintal.
sábado, 11 de novembro de 2006
cronologias

o tempo transgride a esquina.
não vê o sinal vermelho
ou qualquer outro.
o tempo atravessa a rua
e a casa e a alma
e a entranha.
o tempo muda
a cara muda
a boca muda.
tudo muda o tempo
que atravessa tudo mudo,
silencioso e inconseqüente.
o tempo rompe a calma
o tempo espalha lágrima
o tempo voa além das nuvens
o tempo não pára como os relógios
o tempo não morre...
não eu não tu nem eles. só, o tempo.
eu sumo. tu somes. nos fomos.
- sombras de areia
da ampulheta cósmica.
poeira sobre o tablado
poeira da tapeçaria
nas sepulturas
(tapeçaria: onde jaz seu tecelão?)
o tempo cala até os livros.
e cela os restos
sob a terra fria.
o tempo mata
até as lembranças.
e eu com isso?
sumiço.
tudo quisto engole o tempo.
o tempo engole tudo tido:
a cara, o espelho, a vitória, o vestido,
a espada e a estátua, os palacetes...
todo pretérito é perfeito
e todo futuro inexato
estraçalha o peito.
...chronos ainda é,
e muito,
senhor o mundo
e dos vermes.
segunda-feira, 6 de novembro de 2006
mentirinhas
não faço
nem desfaço:
disfarso
tudo à quilo
que é falso
em versos.
nisso tudo,
aquilo fica
fácil e dócil.
e tão sereno
que parece
quase dá
pra ir levando
(o velado futuro)
com as mãos...
pois se nada houvesse,
bastava a poesia
pra que tudo fosse
uma verdade alegre
na poeira dessa vida
vazia.
------------
*bem que vovó já me dizia
que mentira tem perna
curta.
nem desfaço:
disfarso
tudo à quilo
que é falso
em versos.
nisso tudo,
aquilo fica
fácil e dócil.
e tão sereno
que parece
quase dá
pra ir levando
(o velado futuro)
com as mãos...
pois se nada houvesse,
bastava a poesia
pra que tudo fosse
uma verdade alegre
na poeira dessa vida
vazia.
------------
*bem que vovó já me dizia
que mentira tem perna
curta.
sábado, 4 de novembro de 2006
ilimites

minha poesia só é limitada
pelo limite dos meus sonhos.
sonho alto, portanto,
pra fazer grande o que sinto.
e o que sinto se cala.
e o que se cala consente.
consente a falar um nada
na folha ausente.
minha poesia é a minha ausência.
minha poesia é o que não tenho
e o único refúgio que se esconde
na palma da minha mão.
--------
*eu fasso poesia
a poesia me faz
...
e tudo faz sentido.
----------
as mil palavras por trás do gesto
até parece
que é vivendo
que a gente percebe:
as palavras falam,
cada vez mais,
menos.
*imagem de http://ttv.paksut.net/photo/12.2.05_setti/images/hand.jpg
rosa de hiroshima

Pense nas crianças mudas telepáticas
Pense nas meninas cegas inexatas
Pense nas mulheres, rotas alteradas
Pense nas feridas como rosas cálida
Mas Só não se esqueça da rosa, da rosa
Da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária
A rosa radiotiva, estúpida inválida
A rosa com cirrose a anti-rosa atômica
Sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada
(Vinícius de Morais)
-------------------------------
e a rosa
era cinza
e subia leve...
até cair em chuva
radioativa.
--------------------------------
o que se pode dizer
diante da perplexidade
da fissão atômica?
morreu.
mas foi só hiroshima?
eu temo...
e acho que não...
sexta-feira, 3 de novembro de 2006
razões
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